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segunda-feira, 24 de julho de 2023

Grand Finale: Vida e morte em quatro quartos. (25 - 50 - 75)

 
No final do primeiro quarto, aos 25 anos, aproveitando ou não,  deixamos para trás na vida, a verdadeira e real melhor idade. Após termos curtido uma feliz  infância, sobrevivendo as turbulências da adolescência, galgamos a maioridade. Lançado nosso barco em alto mar, só nos restou navegar, pois já desperdiçamos nossas melhores oportunidades do nosso tempo, ou não, no primeiro quarto. O gato tem sete vidas, nós só temos quatro quartos. E no primeiro deixamos nossos brinquedos, nossa melhor bicicleta, nossa linda namorada,  todas nossas maiores aventuras, nossas bolas de gude, todas aquelas alegres tardes no parque, nossas cafifas, nossas bolas, nossos skates e patins, nossos melhores tablets, quiçá, nossos melhores amigos.  

No final do segundo quarto, aos 50 anos, já com filhos da idade do nosso primeiro quarto, ou mais, ofegantes de tanto trabalhar e saudosos do que perdemos de vitalidade, somos aconselhados a tomar suplementos energéticos, pois tudo já vai começar a despencar, daqui até a metade do quarto seguinte, ninguém mais nos segura.  

No final do terceiro quarto, aos 75 já estamos bem desgastados, mas bem experientes e velhos, o suficiente, para sermos considerados sábios e bem pacientes, em todos os sentidos, pois é neste momento que descortinamos todo o universo, como se o mundo estivesse na palma de nossas mãos, já bem delicadas, mas compreendendo como tudo funciona, de verdade, sem crer mais em todas aquelas mentiras que, desde a tenra infância, fomos obrigados a acreditar e engolir, goela a baixo, sem sequer poder pestanejar.

Quarto quarto, bem, duvido que a maioria esteja viva neste último quarto, este foi reservado aos possuidores de juizo perfeito, que cuidaram da saúde desde a primeira infância, ou tiveram pais inteligentes ou geneticamente saudáveis e não jogaram esta parte da vida fora, quando iludidos foram por falsas curtições com bebidas, cigarros e alucinógenos mil, inclusive os que, suposta e prejudicialmente, lhes forneceriam asas, sobrevivendo talvez a algum naufrágio do passado. A esta altura do campeonato estaremos todos mortos e caminhando para o devido esquecimento do que, para a maioria, foi uma inútil e miserável vidinha, só nos restando dormir, para sempre, sem ir para lugar nenhum, muito menos lá em cima, uma vez que estaremos todos sem nossas lembranças, sem cérebro e coração, a energia pifou, restou nada para sonhar, melhor esquecer, inclusive dos impostos para pagar, ou não, quem sabe não vão nos cobrar no enterro pela rasa cova, já que nem um crematório público, decente, existe neste país, mas isto já fica para outros cuidarem, fechem a tampa que vamos todos dormir. Ave Caesar morituri te salutant.

 Autor: Elierre47 - https://www.pensador.com/colecao/elierre47/


segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Vida tão veloz e fugaz que um dia se desfaz



...Porque a vida é fugaz,
tão veloz, tão passageira.
A gente sofre demais, 
por bobagens, por besteira.
Tudo um dia se desfaz
mesmo que queira ou não queira.

Importa é viver em paz
pois quando olhamos pra trás
lá se foi a vida inteira. (Jenário de Fátima)

A vida é trem-bala, parceiro. E a gente é só passageiro prestes a partir…
Ouvindo a música Trem Bala, de Ana Vilela, refleti o quão frágil a vida é e o quanto temos valorizado as coisas e descartando cada vez mais as pessoas.

Vivemos cansados e não conseguimos tirar um tempo para assistir àquele filme que tanto queríamos. Passamos horas e horas em frente ao computador, ao lado de livros, e cada vez menos tempo com quem realmente amamos.

A vida segue a uma velocidade assustadora, que não nos permite pausas e retrocessos, e tudo o que precisamos fazer é avançar.

Passamos a vida tentando alcançar o sucesso e nos esquecemos de alcançar as pessoas. Almejamos aprender a tocar algum instrumento, mas nos esquecemos de como é tocar um coração. Lutamos pelo sucesso com unhas e dentes, mas desistimos das pessoas nos primeiros erros. Abraçamos oportunidades e nos esquecemos de abraçar as pessoas.

Se existe algo que aprendi com todas as perdas, de pessoas que tanto amo, é que o hoje é tempo de amar, de pedir perdão e de perdoar. 

O hoje é tempo de se dizer que está com saudade e correr para um abraço cansado no final do dia, porque o depois pode não chegar e só a saudade não será suficiente para trazer quem amamos de volta, para viver momentos que não vivemos e fazer diferente.

Acreditamos tanto no sucesso e deixamos de acreditar em quem corre do nosso lado, de incentivar os planos e os sonhos de quem amamos. 

Quanto tempo você tira para ligar para aquele amigo que você não vê há tempo? Há quanto tempo você não aproveita tempo de qualidade para estar com quem gosta? Quanto tempo você tem investido em coisas, compromissos e interesses e não em quem realmente se importa com você?

Quanto tempo você investe em quem não repara no seu riso sincero e não aplaude as suas vitorias?

Repare bem, porque a vida é um trem bala e, quando se vê, tudo já passou. O maior tesouro que você pode ter é o amor de quem cuida e se importa com você, pois a vida é muito mais que viagens, dinheiro, sucesso e coisas.

A vida é sobre quem está ao nosso lado, quem segue nessa caminhada conosco e quem não abandona o barco quando a tempestade vem. A vida é muito mais do que carros, jantares caros, é sobre ter com quem contar quando você não tem nada e o outro se dispõe a ser tudo em nossas vidas.

Por isso, reafirmo: o tempo de amar e valorizar as pessoas é hoje, porque, como diz a música, “quando menos se espera, a vida já ficou pra trás”.

Letra da música - Trem Bala - Ana Vilela 

Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si
É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti
É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz
É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós

É saber se sentir infinito
Num universo tão vasto e bonito, é saber sonhar
Então fazer valer a pena
Cada verso daquele poema sobre acreditar

Não é sobre chegar
No topo do mundo e saber que venceu
É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu
É sobre ser abrigo
E também ter morada em outros corações
E assim ter amigos contigo em todas as situações

A gente não pode ter tudo
Qual seria a graça do mundo se fosse assim?
Por isso eu prefiro sorrisos
E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim

Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar
E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar
Também não é sobre
Correr contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera a vida já ficou pra trás

Segura teu filho no colo
Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir

Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá

Segura teu filho no colo
Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir

- Veja também: 

TEMPO E VIDA POR UM FIO

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Amanhã - Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje



  • Certamente você já ouviu essa frase. 

Arrisco a dizer, inclusive, que essa frase foi ouvida por diversas vezes, em diferentes situações e dita pelas pessoas mais variadas de seu círculo. Por mais clichê que ela possa parecer, esse é um sábio conselho.

Deixar para outro dia ou para depois algo que precisa ser feito nada mais é do que procrastinar, outra palavrinha que também é muito dita – e ouvida – por aí. A procrastinação é algo corriqueiro no dia a dia das pessoas, embora não devesse. Normalmente, o que leva as pessoas a adiarem a conclusão de tarefas são: não ver valor nelas, ser impulsivo e resolver questões que surgem de última hora em vez de fazer o planejado, ser perfeccionista, achar que a tarefa é mais difícil do que realmente é e ter medo de errar.

Além desses fatores, recentemente, um estudo publicado pela Universidade de Estocolmo, na Suécia, sugeriu que pessoas que acreditam trabalhar melhor sob pressão desperdiçam seu tempo para só focar no trabalho quando o prazo de entrega de uma tarefa está próximo de acabar. O prazer pela urgência torna difícil, segundo o estudo, eliminar a procrastinação da vida dessas pessoas. Para resolver isso, a solução seria “reprogramar” o cérebro, para que o estresse causado por um prazo apertado não seja mais prazeroso.

Fugir desse ciclo vicioso de adiar tarefas não é fácil, mas é preciso. Lembre-se sempre que ações geram reações – e a falta de ação também! Portanto, faça um exercício mental e imagine o que pode acontecer, tanto no curto prazo quanto no longo, em sua vida profissional se você continuar adiando o que deve ser feito. Sabe aquela tão sonhada promoção? Pois é, ela pode não sair no tempo desejado se você continuar a procrastinar e gerir de forma errada o seu tempo.

O remédio para acabar com a procrastinação é focar. Encarar cada atividade sem distrações. Ao fazê-lo, você perceberá que são bem menos complexas do que parecem.

Outro ponto muito importante e que ajuda no combate à procrastinação é uma boa administração de tempo. Saiba que tudo tem a sua hora, ou seja, determine períodos do dia para atender às solicitações da chefia, da equipe e de outras áreas da empresa. Faça o mesmo para responder a e-mails e mensagens no celular e redes sociais. Não deixe a caixa de e-mails aberta 100% do tempo e desligue alertas de mensagem. Também vale tentar negociar a entrega de demandas de última hora.

Um bom planejamento ajuda também a evitar que os imprevistos impeçam que realize as tarefas do dia. Portanto, destine 2 horas por dia para lidar com as surpresas. Se nada acontecer, ótimo. Você terá um tempinho para se atualizar, conferir aquele estudo, tendência ou apenas se distrair.

Se você seguir à risca estas orientações, sem medo de falhar, e com o propósito claro de acabar de vez com a procrastinação, tenho certeza de que seus dias serão mais produtivos. Experimente!

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Vida e sorte - Hora e Lugar certos


  • Às vezes, as coisas precisam amadurecer para acontecerem no tempo e no lugar certo. E isso demanda paciência e percepção ou, também, uma dose de sorte.
Estar no lugar certo, e também na hora certa, tanto pode ser considerado golpe de sorte como uma grande habilidade. Talvez os dois. Ou, ainda, a melhor explicação: quem tem habilidade cria sua sorte. 

Independentemente dessa tentativa de justificar como algumas pessoas parecem estar sempre no lugar mais adequado, enquanto outras passam a forte impressão de que estão erradas até dentro de suas próprias calças, o fato é que há virtude, sim, de ocupar o espaço mais adequado para cada momento. 

Acho que todos nós conhecemos histórias de pessoas que mudaram a vida em um instante, pelo simples fato de estarem no lugar certo e na hora certa. Lembro do Marcio, companheiro de juventude que, aprovado no concurso de um banco, foi trabalhar em uma pequena e monótona cidade do litoral do Paraná, que não combinava com sua personalidade irrequieta. Durante a semana ele ficava no lugar, uma colônia de pescadores. No final de semana, subia com seu fusquinha de terceira mão para Curitiba. E foi numa dessas viagens que a oportunidade chegou. Num posto em que parou para abastecer, foi abordado por um motorista particular que lhe pediu uma carona para um homem que transportava. O carro, novo e luxuoso, era uma versão malsucedida dos primeiros motores a álcool, que, volta e meia, deixavam seus proprietários na mão. Pedido feito, pedido aceito. O homem, ainda jovem, era um executivo bem-sucedido. Na viagem, papo vai, papo vem, descobriram afinidades. Ambos trabalhavam em bancos, e tinham hábitos parecidos e visões convergentes sobre o futuro, ainda que estivessem em fases diferentes da vida. Despediram-se com a sensação de que haviam criado uma amizade. Cerca de um mês depois, o executivo foi indicado para assumir nada mais nada menos que a presidência do banco. Uma de suas primeiras ações foi ligar, pessoalmente, para a agência da pequena vila e pedir para falar com o funcionário Marcio. Queria retribuir o favor.  Não é difícil imaginar que meu amigo acabou fazendo uma carreira brilhante no banco, o que incluiu trabalhar em sua internacionalização, tendo morado em várias partes do mundo. É claro que não foi só sorte. Foi também sua imensa inteligência e senso de oportunidade. Competência não lhe faltava, e ele soube aproveitar o fato de estar naquele lugar, naquela hora. 

Lembro também de um dos casais mais afinados que já conheci, uma versão real da música Eduardo e Monica, do Renato Russo. Eram muito diferentes, mas incrivelmente unidos e complementares, até hoje. O Eduardo em questão, jovem estudante que ainda tinha espinhas na cara, não teria, em condições normais, chance com a exuberante Monica, a não ser que surgisse uma oportunidade de se encontrarem em condições ideais. Em sua visão, duas coisas poderiam acontecer: um golpe de sorte ou uma boa estratégia. Ele apostou na segunda. Com auxílio dos amigos, os dois se encontraram na mesma festa, que, na verdade, era um cenário bem montado. Ensaiados, os amigos foram saindo até que ficassem só os dois, e ele ganhasse tempo para expor seus talentos, que eram muitos, mas que estavam escondidos atrás da timidez. Como disse o Renato, “e quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?”. Sim, tempo e lugar, quando complementares, podem fazer milagres. A equação perfeita entre essas duas variáveis é o que resultará naquilo que chamamos de oportunidade, a grande chance, ou sorte. Na verdade, tem mais a ver com inteligência e senso de oportunidade do que com o acaso. 

Estar no lugar certo, na hora certa pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso, e algumas pessoas têm, naturalmente, uma percepção maior sobre esse binômio, e conseguem se posicionar com mais qualidade. É conhecido o conceito do timing, palavra em inglês que deriva de time (tempo), e que tem o significado de “senso de oportunidade” com relação à escolha do momento certo para realizar uma ação, ou à sua duração mais adequada. Uma pessoa com timing reconhece o instante em que deve falar ou calar. Sabe a que horas chegar e a que horas se retirar. Constrói suas frases e apresenta ideias de tal forma que o tempo utilizado por sua fala não é menor do que o necessário para o entendimento, e jamais ultrapassa o limite do incômodo ou do enfado. Pessoas com timing são mais agradáveis. Seus chistes são pequenos, mas engraçados, porque surgem nos momentos adequados. Grandes atores conhecem o timing do palco, respeitam a vez do coadjuvante, ou do silêncio. O comandante do avião realiza aterrissagens mais suaves quando conhece o timing do encontro do trem de pouso com a pista. O bom vendedor conhece o timing do fechamento do negócio, quando o cliente tem suas dúvidas esclarecidas e está emocionalmente envolvido com a compra. Não devemos menosprezar o timing, que pode representar o sucesso ou não de nossas ações. E eis que surge agora o conceito de placing, como um neologismo que deriva de place (lugar), e teria o mesmo significado de timing, só que com relação ao espaço físico. Entender o momento é vital para a didática e para a elegância, e entender o local é vantagem para quem o ocupa. Hora e local, nada mais lógico. Entender o local significa posicionar-se no mundo respeitando limites, mas impondo direitos; reconhecer que a visibilidade é fundamental, mas a invisibilidade também, pois enquanto aquela produz respeito, esta produz lembrança, e ambos os sentimentos reforçam nosso significado e valor. Posicionar-se adequadamente é uma vantagem competitiva durante uma dinâmica de grupo para selecionar um candidato.

É a garantia de equilíbrio do surfista em cima da prancha. É a certeza de que o cavalo sabe que o cavaleiro é quem comanda. É a segurança do caçador que não deseja virar caça. É a felicidade do bebê no colo da mãe. 

É o ponto ganho quando o enamorado é percebido pelo pretenso amor. O mundo tem milhões de quilômetros quadrados, mas existe um metro quadrado que é o mais adequado para ser ocupado por minha pessoa neste exato momento. Reconhecer este metro quadrado é mais do que lógica. É a arte da percepção, da sensibilidade e da inteligência dessa relação tempo-espacial.
  • - Eugenio Mussak  - vidasimples

terça-feira, 14 de novembro de 2017

FILMES - Mais Estranho Que a Ficção


  • Sinopse:
Certa manhã Harold Crick (Will Ferrell), um funcionário da Receita Federal, passa a ouvir seus pensamentos como se fossem narrados por uma voz feminina. A voz narra não apenas suas ideias, mas também seus sentimentos e atos com grande precisão. Apenas Harold consegue ouvir esta voz, o que o faz ficar agoniado. Esta sensação aumenta ainda mais quando descobre pela voz que está prestes a morrer, o que o faz desesperadamente tentar descobrir quem está falando em sua cabeça e como impedir sua própria morte.
  • Crítica:
Quando somos autores de obras , o maior problema é quando você decide matar o seu personagem. Ficamos dias e dias pensando em como cometer o ato. Vemos vários filmes e tudo o que mais encontramos para nos inspirar. No meu caso não consegui matar, ainda… Mas que diabos você está falando? Estou falando do filme Mais Estranho Que a Ficção.

Antes de qualquer coisa, só vou adiantar que o filme fala sobre a vida comum do auditor da receita federal, Harold Crick (Will Farrel), que subitamente começa a ouvir uma narração em terceira pessoa sobre sua vida, seus atos e pensamentos mais profundos. Inclusive contanto sobre seus TOQUES de contar absolutamente tudo e calcular todas as coisas minuciosamente, tornando-o uma pessoa reclusa e de poucas palavras.


Mas tudo muda com a voz misteriosa que invade seus pensamentos nos momentos mais inoportunos da vida.

O que pude perceber desse filme? Percebi muita coisa boa e que nos remete a pensar sobre nossa vida e como a tratamos… Tipo como estamos levando nossa vida ou como estamos a encarando. Nada mais do que justo, coisas que geralmente passam por nossas mentes, esse filme trata tudo isso de uma maneira que podemos compreender, já que todos nós temos um pouco de esquisitice dentro de nós. A narrativa nos cativa e nos leva ao mundo paralelo de duas pessoas. A autora e o personagem. Dois mundos totalmente divididos em uma parede que não vemos. Já disse sobre o personagem, mas não disse muito sobre o outro personagem, que nada mais é que a autora do livro que está escrevendo sobre a vida de Harold, parece estranho pensarmos sobre dois mundos paralelos no mesmo mundo, mas temos que lembrar que o título é Mais estranho que a Ficção, então temos algo “muito mais estranho que a ficção” mesmo, temos um mundo comum, supernormal, com pessoas normais que enfrentam suas vidas triviais e repleta de cotidiano, não importando de qual lado venha, digo apenas que nem para uma escritora é fácil. Escrever é algo que demanda tempo e muita paciência, muitas vezes sendo necessária inspiração para conclusão de trechos e até finais. E essa parte é o drama vivido pela escritora Karen Eiffel (Emma Thompson) que conta com um histórico de sempre ter seus personagens mortos nos livros.


A relação da vida é na verdade algo delicado, muitas vezes a tratamos como um drama, ou comédia, apenas depende de quem a escreve, na vida real podemos torná-la mais agradável dependendo do que podemos fazer para mudá-la, mas o que nós podemos fazer para deixar toda a tristeza, amargura e raiva que muitas vezes sentimos ao viver nossas vidas? Todos os dias levantamos cedo, corremos para pegar ônibus ou ficamos preso em engarrafamentos. Mas tudo isso para qual finalidade? Apenas nascemos e vivemos para depois terminar em uma vida sem sentido? Afinal, qual o sentido da vida? Por que viver num mundo onde trabalhamos para pagar tudo?


Esse é o sentimentos que temos em metade do filme… Mas há uma mudança? Sim, mas em que o enredo de “Mais Estranho Que a Ficção” muda? Isso vai depender da sua percepção ou visão de mundo que você tem, sua leitura poderá ser diferente do que a que tive e isso dependerá do paróptico que você conseguiu em sua vida. Acredito que a mensagem do filme é a de que devemos fazer coisas salutares que vai nos despertar para ver o mundo de outra forma. Em outras palavras, é primordial que vejamos as maravilhas na simplicidade da vida para acendermos a chama da felicidade em nossas vidas e enxergarmos o que antes não víamos e apenas desacelerando conseguiremos.
- mundodasresenhas
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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Sabedoria é uma das portas abertas pela passagem do tempo

  • O tempo é um recurso escasso que não pode ser reposto, sendo o único que controla nosso tempo de validade.
Os gregos, que encontravam explicação para tudo pelas forças emanadas pelo monte Olimpo, não se contentavam em ter um deus do tempo, tinham logo dois: Cronos e Kairós. Um só deus grego não seria suficiente para explicar a relação do homem com o tempo, tamanha a tensão que existe entre ambos.

A única proeza em que o homem teve sucesso, a respeito do tempo, foi conseguir medi-lo. Para isso, analisou ciclos, como os movimentos da Lua e do Sol, observou seu efeito sobre a natureza e, então, padronizou os tempos do ano, das estações e dos dias, posteriormente divididos em frações, chamadas horas, minutos, segundos. Em sua arrogância, o humano acreditou que, ao medir o tempo, o controlaria. Doce ilusão. As medidas só serviram para aumentar a sensação da passagem veloz do tempo, que escorre pelas mãos, como a água.


Mas nem tudo está perdido. Nós, humanos, podemos ser apenas pobres mortais, mas temos uma ferramenta que nos permite controlar, se não o tempo, nossa própria existência. Essa ferramenta se chama consciência. E ela nos permite conviver com o tempo com base em três visões: da física, da metafísica e da ética. Do ponto de vista físico, o tempo pode ser medido. No âmbito da metafísica, o tempo pode ser sentido. E, de acordo com a ética, o tempo deve ser vivido.


A física é a relação mais óbvia, e é com um instrumento físico que nós passamos a medir o tempo: o relógio. Contudo, ele apenas nos avisa que o tempo passa - o que faremos com essa informação é problema nosso. Do ponto de vista do que está além da física, o tempo é um sentimento, portanto ele tem duração variável, contrariando os relógios. Veja só: dois minutos de broca do dentista são mais longos do que 16 minutos escutando o Bolero de Ravel ao lado da pessoa amada.


E, quanto à ética, ela nos alerta para um fato óbvio só para os mais conscientes: o tempo é um recurso escasso que não pode ser reposto, e sua qualidade dependerá do que fizermos com ele. Como disse Marcel Proust: "O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração". E ele entendia do assunto, pois dedicou mais de uma década para escrever cerca de 4 mil páginas, que foram publicadas em sete volumes dedicados à relação humana com seus valores, entre eles o tempo. A essa obra completa, o escritor francês chamou Em Busca do Tempo Perdido. No último volume, O Tempo Reencontrado, o autor faz várias voltas ao passado e descobre que só a memória poderá se defrontar com o tempo e nossa paz interior será proporcional ao que a memória encontrar na volta ao passado, ou seja, a qualidade que demos ao tempo que nos foi dado viver.


Podemos sentir o tempo e medi-lo. Então ele está à nossa disposição?


O tempo está à nossa disposição, mas é ele que dispõe de nós, por isso, estabelecer com ele uma relação de paz é um ato de sabedoria. Sentir e medir o tempo são aparentados, pois ambos nos permitem perceber seu andar ininterrupto. Como? Bem, sentir e medir o passar das horas são iniciativas úteis, pois nos ajudam a decidir o que faremos com o tempo de que dispomos. Assim, nossa paz com o tempo será diretamente proporcional à paz que estabelecemos com nossas escolhas e nossas decisões. E essas são pessoais, relativas aos valores de cada um.


O cientista inglês Stephen Haw-king, que ocupa na Universidade de Cambridge a mesma cadeira que já foi de Newton, escreveu um livro chamado Uma Breve História do Tempo. Em dado momento, em meio a intrincados conceitos científicos, ele pondera que o tempo tem que ser analisado com base em três setas: a seta cosmológica, que explica a expansão do Universo, a seta termodinâmica, que explica a modificação constante das coisas, e a seta psicológica.


Sim, o físico mais importante da atualidade não consegue analisar os fatos do tempo sem recorrer à psicologia. Os enigmas intrincados da matéria se relacionam com os mistérios do tempo desde sempre, mas, quando o homem passou a protagonizar essa peça no palco do Universo, seus pensamentos e sentimentos acrescentaram novos ingredientes ao roteiro, às vezes de comédia, às vezes de tragédia.


A maior contribuição da física, nesse assunto, é a ideia da relatividade. As sofisticadas descobertas de Einstein sobre a velocidade da luz nos levaram a abandonar a ideia de tempo único e absoluto. Então: "O tempo se tornou um conceito mais pessoal, relativo ao observador que o está medindo", diz Hawking. Nossa relação com o tempo se faz baseada em nossos valores, opções, decisões e culpas. É o tempo psicológico. Eu dedico mais tempo àquilo que tem mais valor para mim. O problema é conhecer seus valores.


Voltando aos gregos, Cronos é o deus do tempo medido, por isso usamos expressões como cronograma, cronologia, cronômetro. Nos livros de mitologia, ele é representado como um deus malvado, que come seus próprios filhos, simbolizando o que o tempo faz conosco atualmente - parece que ele nos devora. Já Kairós é o deus do tempo vivido, das escolhas que fazemos, da maneira como nós aproveitamos a vida. Cronos é quantitativo, e Kairós é qualitativo.


A primeira sensação é a de que Cronos é inimigo e Kairós amigo. O primeiro quer subjugar, e o segundo libertar. Mera sensação, pois, na prática, nós precisamos de ambos, uma vez que não podemos escolher a felicidade sem nos organizarmos para alcançá-la. Kairós nos estende a mão, Cronos nos empurra. Mas é necessário que saibamos o que queremos e que consigamos nos organizar.


A sabedoria consiste em estabelecer uma conexão entre os valores pessoais e a gestão do tempo disponível?


A mitologia ilustra bem essa angústia humana. Zeus, o mais poderoso deus do Olimpo grego, era filho de Cronos, mas nenhum dos dois conhecia esse parentesco, mantido em segredo por Réa, mãe dos filhos de Cronos. Mas Zeus só assume a posição de poder quando enfrenta Cronos e o vence em uma batalha. Ele havia sido sabiamente aconselhado a não matar seu oponente, pois assim ele estaria matando o próprio tempo e ficaria, então, aprisionado no instante, sem futuro nem memória.


A estratégia de Zeus foi vencer Cronos, cortando seus tendões e amarrando sua cabeça aos pés, criando um círculo com seu corpo. A partir de então, o deus do tempo passou a ser também o deus das ações repetitivas, como o dia e a noite e as estações do ano, eventos cíclicos.


Na prática, Zeus conquistou Cronos e o dominou, administrou. Nossa vida moderna não difere disso. Todos temos 24 horas por dia à nossa disposição, mas estou certo de que você conhece pessoas que aproveitam bem essas horas, produzem, trabalham, estudam, se cuidam, se divertem, cultivam as relações. E também conhece outros, que se queixam da falta de tempo, da velocidade dos acontecimentos, da sensação de impermanência e da falta de controle. Na prática, o que acontece mesmo é exatamente a falta de controle, de ação da lógica na organização de suas prioridades. A agenda não escraviza - ao contrário, liberta, confere autonomia, possibilidades, alcances.


Mas gestão é a segunda palavra -chave. A primeira é escolha. Fazemos nossas escolhas com base em nossos valores e criamos uma estratégia para atingir nossos propósitos. Estratégias dependem de recursos, entre eles, o mais caro e raro: o tempo.


O ideal seria estabelecer uma relação lógica entre presente, passado e futuro?


Muito se fala que a única coisa real é o presente, pois o passado não existe mais e o futuro ainda está por vir. Há uma lógica nessa observação, mas é uma lógica primitiva, pois esses tempos são totalmente interligados e interdependentes.


É verdade que o presente é a única realidade prática, mas também é verdade que é nesse instante que se inserem o passado e o futuro. Na dimensão temporal atual, o passado recebe o nome de memória e o futuro tem vários pseudônimos, como sonho, desejo, medo e esperança.


O futuro não é algo que vai existir. O futuro existe agora. Aliás, o futuro só existe no presente, pois, quando no futuro, o futuro virar presente, ele deixará de ser futuro. Parece óbvio, mas escapa da percepção cotidiana da maioria das pessoas. E escapa também o fato de que o futuro virará presente e, quando isso acontecer, ele será melhor ou pior, a depender das providências tomadas no presente, neste exato momento.


Em outras palavras, só vivemos no presente, mas estamos fortemente conectados ao passado, que nos ensina, e ao futuro, que nos motiva. Viver é estar atado a essa tríade temporal, doce ou amarga, dependendo da consciência de cada um. Fazer as pazes com o tempo é a verdadeira sabedoria. Só que "a sabedoria não se transmite, é preciso que nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas", também disse Proust.


Sim, a sabedoria é uma maneira de ver as coisas, mas isso exige intenção, disposição e coragem. O problema é que desenvolvemos essas três qualidades em épocas diferentes de nossa vida, por isso a maturidade às vezes tarda, depende do tempo.


O mesmo tempo que exige maturidade para ser bem escolhido e controlado, em outras palavras, para ser muito bem vivido.

- vidasimples.uol.com.br

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Tempo para sair de férias e meditar

A única coisa errada que você pode estar fazendo é não ter consciência das consequências daquilo que está fazendo.
 
Passar todo o seu tempo livre na frente da televisão não é errado, desde que você tenha consciência de quais conteúdos está assistindo e quais resultados você terá no futuro após anos de dedicação a essa prática.  

Você deve ser capaz de avaliar a relação de custo-benefício das decisões que você toma diariamente sobre o que fazer com o seu bem mais precioso.
 
No caso do Youtube, você tem o poder de ignorar o conteúdo que não interessa e focar sua atenção no conteúdo realmente importante. É uma escolha sua passar várias horas assistindo vídeos engraçados ou assistindo palestras e apresentações de grandes autores e pensadores.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Tempo - Saiba como ter mais tempo com ele



  • A vida tem passado depressa e parece impossível completar toda a nossa lista de tarefas.
Mas, se o dia vai continuar tendo 24 horas, a gente pode encontrar caminhos para viver num compasso que nos traga mais satisfação e felicidade.

Ele estava logo à minha frente, e então apertei o passo para alcançá-lo. Queria dizer-lhe que ele andava muito, mas muito apressado e que, por isso, a gente mal tinha se visto nesse ano que se findou. Que esse passo desajustado dele não tinha me permitido realizar nem metade das atividades e compromissos que eu anotava, dia após dia, na minha agenda. Não me deixou assistir a todas as séries, ler todos os livros, responder todos os e-mails, curtir todas as fotos, estar com meus amigos, visitar minha família. Mas tão logo eu acelerava, ele acelerava também, como se não quisesse dar satisfação. Ele, o Tempo, parecia não ter tempo para mim. E eu acho que se você, assim como eu, vive nessas terras onde a rapidez é a premissa de tudo e os relógios estão nos vigiando por todos os cantos, também pode ter vivido a mesma cena e se sentido  traído pelas horas, afundado nas listas de tarefas e desejos. A gente tentou segurar os ponteiros, mas não deu muito certo, não é? O que eu estou aprendendo – e isso leva um bocado de tempo – é que a gente nunca vai passar a perna no tempo, porque isso seria como passar a perna em nós mesmos. “O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrasta, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo”, escreveu o argentino Jorge Luis Borges, um escritor que gostava de pensar sobre passado, presente, futuro. Mas, se o tempo é a gente mesmo, o que eu quero contar para você é que é possível ajustar o descompasso do nosso caminhar e aproveitar cada dia de verdade, deixando no passado a sensação de não estar vivendo o bastante e de não ter tempo para nada.  “Que horas são?” talvez seja uma das perguntas que a gente mais se faça ao longo do dia, sem perceber que condicionamos a duração de cada experiência que vivemos à tirania de um relógio. “A invenção do relógio mecânico na Europa, no século XIII, foi a grande revolução na história do tempo, um evento que mudou a consciência humana para sempre”, escreve o historiador da cultura e professor australiano Roman Krznaric, em seu livro Sobre a Arte de Viver (Zahar). É desconcertante descobrir que nem sempre foi assim. Esse tempo como conhecemos, dividido em pequenas fatias iguais, é uma invenção social, algo que transformou a nossa vida mais do que a pólvora, a bússola, a imprensa. Mas, antes disso, a humanidade passou séculos sem se pautar pelas horas e minutos. “Sócrates inventou a filosofia sem saber se eram 3h10 ou 14h50. Leonardo da Vinci não ficou consultando seu relógio quando pintou A Última Ceia”, prossegue Krznaric. É, o relógio mudou o tempo. E é claro que essa tecnologia nos ajuda um bocado – como marcar um encontro com alguém? A que horas entrar e sair do trabalho? Mas aconteceu algo muito perverso durante a Revolução Industrial: o tempo virou coisa, mercadoria. Aí, entraram para o nosso vocabulário palavras como “gastar”, “poupar”, “desperdiçar” tempo. A substância daquilo que somos também passou a ter preço, afinal “tempo é dinheiro”. “Perder tempo” se tornou nosso maior medo e “ter mais tempo” virou a nossa busca eterna. O filósofo francês André Comte-S ponville, autor do livro O Ser-Tempo (Martins Fontes), aponta uma reflexão que não estamos acostumados a ouvir, mas que contém uma verdade importante. O tempo, em si, não é coisa. “Ele é passado, presente e futuro. Mas, se o passado já foi, e o futuro ainda não chegou, arrisco dizer que o tempo é o presente. É essa continuidade.” O que ele quer dizer é que, ainda que o tempo seja movimento, só temos o presente. Se me lembro do passado, lembro no presente. Se penso no futuro, o faço também no agora. Eu escrevo esta reportagem no presente, e você também a lê no presente. “Trata-se desse agora que nunca desaparece.” O problema é que a gente ainda vive como se o tempo fosse algo externo, que caminha num descompasso que não alcançamos. “Vivemos uma desconexão com ele”, me disse Gustavo Gitti, colunista de vida simples. “Alternamos entre ‘correr atrás do tempo’ (ansiedade, correria, distração, o ‘quase lá’) e ‘esperar o tempo chegar’ (tédio,  depressão, ‘quando tal coisa acontecer, aí, sim...’). Não nos sentimos no tempo certo. É como assistir a um filme com áudio fora de sincronia, ou sentarmos meio tortos em uma cadeira. Não é gostoso.” Gustavo diz que a gente nunca vai ser capaz de relaxar de verdade dentro de uma sensação de “ter tempo”. Não importa se temos um minuto, uma hora, uma tarde, um mês. Ainda estamos muito fixados nessa ilusão de que o tempo é uma coisa, quase como uma caixa feita de horas e que vamos enchendo com mil tarefas. E, quando a caixa fica apertada demais para tudo o que a gente quer colocar dentro, vamos atrás de dicas e cursos de administração do tempo. Para Roman Krznaric, algumas dicas podem até ser úteis, como olhar o e-mail uma única vez por dia ou aprender a delegar tarefas, mas ainda não mudam profundamente a nossa relação com as horas. “A administração do tempo, na verdade, é uma ideologia que nos ensina a fazer coisas mais depressa e com mais eficiência, de modo a podermos enfiar cada vez mais coisas em nossos dias”, alerta Krznaric, cuja agenda do dia, ele diz, tem sempre um bom espaço em branco, onde ele está fazendo nada. “É meu tempo preferido, onde posso sonhar acordado”, me disse ele, por e-mail. Na caixa das tarefas que queremos fazer depressa, vão junto os momentos prazerosos que são o deleite da vida. É o almoço de dez minutos, onde o sabor da comida nem se aprecia. A visita cronometrada que fazemos aos nossos pais, incapaz de nos aprofundar em uma conversa. Costumo olhar com atenção aos pais que andam de mãos dadas com os filhos pequenos pela rua. Quase sempre eles estão em descompasso:  o adulto tem o caminhar apressado, a criança segue atrás, puxada pela mão, enquanto tenta colocar os olhos nas belezas do dia que a gente já não enxerga mais. O jornalista britânico Carl Honoré passou por um momento assim, de descompasso com o filho, há alguns anos. “Na hora de contar história para dormir, eu lia tudo bem rápido. Pulava algumas frases, parágrafos, até mesmo uma página inteira. E meu filho conhecia a história, e então brigávamos”, conta Carl. “O que era para ser o momento mais relaxante, íntimo e carinhoso se tornava uma batalha entre o ritmo dele e o meu.” A história de Carl começou a mudar enquanto ele lia um artigo com dicas sobre como “poupar” tempo. Entre elas havia a sugestão de livros que faziam as crianças dormirem em um minuto. Carl ficou entusiasmado, mas em seguida teve um espanto: “Estou mesmo com tanta pressa que vou enganar meu filho com uma historinha de nada no fim do dia?”. Foi aí que ele, um viciado em velocidade, resolveu desacelerar. E criou, há pouco mais de dez anos, o movimento slow, um convite a desfrutar momentos com mais lentidão – ou melhor, com o devido tempo que aquela vivência merece. Carl reflete como o tempo é encarado como um recurso que acaba e que, se não usado, a gente perde. “Isso cria uma equação. Se ele acaba, então aceleramos, tornando cada momento de cada dia uma corrida em direção à linha de chegada. Uma linha que, no entanto, nunca alcançamos”, diz. É claro, nem sempre a lentidão é a resposta, ele diz, mas existe uma lentidão boa. As refeições que fazemos com a televisão desligada, um encontro que existe sem a duração das horas, e até quando podemos  olhar com calma para os problemas do trabalho a partir de diferentes ângulos. Recentemente, Carl lançou o livro Solução Gradual (Record), em que discute como ansiamos por soluções rápidas para tudo: na política, na medicina, nos aplicativos de relacionamentos. “Eu ainda amo a velocidade. Gosto de esportes rápidos e nunca deixaria de praticá-los. Só que já não me sobrecarrego mais. Sinto que estou vivendo minha vida em vez de apostar uma corrida contra ela.”  Voltar a nossa atenção para o momento presente como forma de nos reconectarmos também é o que sugere o escritor alemão Eckhart Tolle, autor de O Poder do Agora (Sextante). Em sua recente vinda ao Brasil, ele propôs que tentássemos nos colocar presentes inclusive nas tarefas mais triviais do cotidiano, as que parecem lentas ou aborrecedoras. “Mesmo quando você está esperando algo, use essa oportunidade para dar toda atenção ao momento presente, a apenas observar. No semáforo, no elevador, esperando na linha para falar com o banco, aguardando um voo... Use essa oportunidade para estar apenas no agora”, ele propõe. “Talvez você perceba que a sua mente não vai ficar muito feliz com isso, com esperar. Ela vai querer te contar uma história de que onde você está nesse momento não é um bom lugar. Ela pode reclamar dentro da sua cabeça ou, se tiver outra pessoa perto de você, ela pode reclamar em voz alta.” O resultado de se manter atento, ele diz, é que vamos encontrar uma percepção de que são esses pensamentos que estão nos dizendo que não deveríamos estar ali, por vezes nos jogando para outro tempo. “Quanto mais consciente você se torna do momento  presente, mais vivo você se sente. E você se conecta com a essência do agora, que é onde tudo acontece.”
  • Uma corrida contra a vida
Parece que estamos mesmo obcecados pela velocidade. Talvez porque ela nos traga a ideia de que, se tudo é rápido e instantâneo, o tempo de espera é encurtado e, portanto, mais bem aproveitado. “A velocidade é divertida, sexy, é uma adrenalina. É como uma droga na qual somos viciados”, me disse Carl Honoré. Ao longo dos últimos séculos, as viagens ficaram mais rápidas, o telégrafo agilizou a forma como nos comunicávamos no século XX e hoje a internet é a prova de que a relação tempo-espaço já praticamente não existe: tudo é imediato. O dia começa e a quantidade de e-mails que temos para responder já parece nos deixar em desvantagem na vida. Para piorar, tão logo chegamos à última mensagem da caixa de entrada, já recebemos a resposta do primeiro e-mail. É algo sem fim. Se essa conectividade toda está cheia de pontos positivos (o que me permitiu falar com pessoas que estão em outros cantos do planeta para poder escrever esta reportagem, por exemplo), por outro lado, a gente ainda não sabe lidar com tanta informação, e aí vem um sentimento de estarmos um pouco desorientados. Tempos atrás tive uma conversa com o professor e ex-editor da revista de tecnologia Wired, o britânico David Baker. Eu disse a ele que sentia uma pressão para estar sempre conectada. Ele me respondeu: “Essa expectativa existe, mas questiono: quão rápido eu tenho que responder uma mensagem e quantas de nossas decisões são influenciadas pelo meio externo? Penso que ter um celular comigo o tempo todo me parece mais uma decisão cultural, e não guiada pela minha necessidade verdadeira”. Ele tem razão. Tudo bem respeitar o meu próprio tempo e não me sentir em débito com o mundo. David também sugeriu experimentarmos momentos de desconexão – que se transformam em uma outra conexão, consigo mesmo. “Essas horas fora das redes nos fazem pensar. Você fica longe do celular e pode descobrir parques incríveis, e até decidir ficar neles um pouco mais”, ele diz. Desfrutar de algum tempo com a natureza nos aproxima do nosso verdadeiro tempo. Muitos estudos têm demonstrado que ela desencadeia em nós reações fisiológicas que nos fazem relaxar e diminuir a velocidade. “Mesmo quando vivemos num mundo moderno, ainda somos criaturas da natureza”, observa Carl. “Ela nos lembra dos limites e da loucura da velocidade. Ela nunca está com pressa; ela faz tudo no ritmo certo.” Para vivenciar isso não é necessário se mudar para o campo: ela também está no espaço urbano. E a gente pode contemplar os ciclos de cada transformação, que não podem ser acelerados, como os belos ipês que desabrocham no inverno cinzento, ou o pôr do sol, que nunca pode ser adiantado. Mas desacelerar também requer um sopro de coragem: é desconstruir a ideia de que devagar é ruim, de que o lento é alguém que desiste, que é preguiçoso ou burro. Pode reparar: existe um certo glamour em dizer que estamos muito ocupados, que temos trabalhado demais e estamos sem tempo. “É como se passasse a ideia de que, por isso, somos mais importantes. Mas a gente pode resgatar o valor de que estar disponível é valioso”, sugere  Eleonora Nacif, professora das aulas Como Tomar Decisões Melhores e Como Aproveitar Seu Tempo Sozinho, na The School Of Life. Podemos, por exemplo, passar a chamar nosso tempo de “folga” apenas de tempo. Aos poucos vamos nos sentindo mais à vontade em desfrutar dos momentos de lazer, do cultivo às nossas paixões. Nesses momentos de pausa, também abrimos espaço para refletir sobre as nossas grandes questões e como temos vivido, algo que às vezes evitamos. Depois de um período, é bem possível que você prefira reduzir a jornada de trabalho a receber um aumento.
  • A casca inútil das horas
Mesmo nos nossos momentos de lazer podemos resistir à tentação de encher o dia de atividades. Há alguns anos, eu me deixei seduzir pela ideia de “produtividade” e quis dar cabo do Museu do Louvre, em Paris. Levei três tardes para percorrer boa parte de suas infinitas galerias e, no final, eu me sentia mais exausta do que encantada pela arte. Hoje, quando visito uma exposição, tento contemplar apenas algumas obras, sem as algemas do relógio e pelo tempo que meu olhar julgar necessário. Termino a visita muito mais enlevada. Por isso, é importante a gente saber que tudo bem não dar conta de tudo. “Aproveitar o tempo pode ter muito mais a ver com ficar satisfeito com suas escolhas, uma vez que não é possível fazer tudo sempre”, observa a psicóloga Luiza Maria Carneiro de Carvalho Leitão. Assim, é ser capaz de se contentar em assistir a uma série em detrimento das outras, já que ver todas vai ser impossível, ou evitar a maratona de ir a três compromissos num mesmo sábado. “Porque,  do contrário, não somos capazes de curtir nem o que escolhemos nem o que deixamos de lado. Ficamos sem nada”, complementa Luiza, que ao longo dos anos se deu conta de que ler com mais vagar, apreciando um bom livro, era muito mais prazeroso. Aos poucos, vamos nos acomodando na ideia de que, para viver bem, é preciso respeitar o nosso próprio tempo, que não é o mesmo do relógio, ou o das outras pessoas. Mario Quintana tem um poema lindo que diz: “Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...”. Porque, mesmo acelerando, a gente não vai viver o dobro. Botar reparo nos nossos dias e viver o presente, que é o nosso tempo, pode evitar que, no final, a nossa pressa tenha feito a vida passar como um borrão.
  • Débora Zanelato - Vida Simples Digital

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Tempo e sabedoria - Saiba como aproveitar melhor o seu tempo

  • O tempo dura bastante para aqueles que sabem aproveitá-lo. Leonardo Da Vinci
“Como eu queria ter mais tempo!” Quantas vezes você já disse isso? De certo modo, o tempo iguala as pessoas — os ricos e poderosos têm a mesma quantidade de tempo que os pobres e humildes. Além disso, nem o rico nem o pobre podem acumular tempo. O tempo que passou não volta mais. Então seria sábio fazer bom uso do tempo que temos. Como?
 
Vejamos quatro estratégias que têm ajudado muitas pessoas a aproveitar bem seu tempo.
  • Estratégia 1: Seja organizado
Defina suas prioridades.  Certifiquem-se das coisas mais importantes. Faça uma lista do que você precisa fazer e determine se uma tarefa é importante, urgente, ou ambas. Lembre-se de que algo pode ser importante, por exemplo, fazer compras no supermercado, mas nem sempre é urgente. E o que talvez pareça ser urgente, por exemplo, assistir a seu programa de televisão favorito que está começando, pode não ser tão importante assim.
 
Planeje-se. Agir com sabedoria assegura o sucesso. O que isso significa? Assim como um lenhador vai perder menos tempo se afiar seu machado, você vai conseguir usar melhor seu tempo se planejar suas atividades antes de começá-las. Deixe para depois ou descarte as tarefas não essenciais, que só servem para consumir seu tempo e energia. Se sobrar algum tempo depois de completar uma tarefa, aproveite esse tempo para adiantar outra. Quando você se planeja, sua produtividade aumenta.
 
Simplifique sua vida. Saiba dizer “não” às coisas que não são importantes ou que só consomem tempo. Ter atividades e compromissos demais pode sobrecarregá-lo e tirar sua alegria.
  •  Estratégia 2: Fuja dos “ladrões” de tempo
Indecisão e hábito de adiar as coisas. O hábito de adiar as coisas rouba tempo e produtividade. Um lavrador que espera pelas condições perfeitas para plantar pode acabar não semeando nem colhendo. Da mesma forma, se não tivermos cuidado, podemos acabar permitindo que o medo das incertezas da vida nos transforme em pessoas indecisas. Ou talvez achemos que uma decisão só pode ser tomada se tivermos todos os detalhes sobre um assunto. É claro que, antes de tomarmos uma decisão importante, precisamos examinar bem o assunto.  Mas, na realidade, toda decisão envolve alguma incerteza.
 
Perfeccionismo. É elogiável que alguém queira dar o seu melhor. Mas quando fixamos padrões muito altos, podemos ficar desapontados e até mesmo fracassar. Por exemplo, uma pessoa que está aprendendo outro idioma precisa entender que vai cometer erros e que vai aprender desses erros. Por outro lado, um perfeccionista pode morrer de medo de falar algo do jeito errado — uma atitude que vai prejudicar seu progresso. É muito melhor sermos modestos e termos expectativas razoáveis. Os modestos e humildes não se levam a sério demais nem têm medo de rir de seus erros. - SEU TEMPO VALE GRANA. “Na verdade, você não paga as coisas com dinheiro, você as paga com tempo.” 
  •  Estratégia 3: Seja equilibrado e realista
Equilibre trabalho e recreação. Um pouco de descanso é bem melhor do que um punhado duplo de trabalho árduo e um esforço para alcançar o nada. Quem é viciado em trabalho, "WORKAHOLIC", geralmente não aproveita bem o resultado do seu “punhado duplo de trabalho árduo” porque não tem tempo ou energia para isso. Enquanto que o preguiçoso escolhe um “punhado duplo” de descanso e desperdiça todo o seu tempo precioso. Trabalhe bem e aproveite o resultado de seu trabalho. Fazer isso é um presente seu para você mesmo e para o seu progresso profissional.
 
Durma o suficiente. A maioria dos adultos precisa dormir cerca de oito horas por dia para estar bem em sentido físico e emocional. O sono também nos beneficia no sentido cognitivo, porque ajuda na concentração, na memorização e no aprendizado. Por isso, dormir é uma forma de usar bem o tempo. Não dormir o suficiente dificulta o aprendizado e torna a pessoa propensa a erros, a acidentes e a se irritar com facilidade, sem citar os problemas de saúde que surgirão, com certeza.
 
Defina objetivos realistas. Contentar-se com o que os olhos veem é melhor do que sonhar com o que se deseja. O que isso significa? Uma pessoa sábia não permite que desejos ou sonhos controlem sua vida, principalmente os irrealistas ou os impossíveis de alcançar. Assim, ela não se deixa seduzir pela propaganda enganosa nem pelo crédito fácil. Em vez disso, ela aprende a se contentar com o que realmente está a seu alcance — “o que os seus olhos podem ver”.
  •  Estratégia 4: Seja guiado pelos valores certos
Analise seus valores. Seus valores podem ajudar você a avaliar o que é bom, o que é importante e o que vale a pena. Se sua vida fosse uma flecha, então seus valores apontariam para onde essa flecha deve ir. Por isso, ter bons valores pode ajudar você a definir as prioridades certas na vida e a usar melhor o seu tempo. Onde você pode encontrar esses valores? Muitas pessoas têm encontrado na leitura de bons E-books on line, ou nos exemplos de textos relevantes, bem filtrados na internet.
 
Coloque o amor em primeiro lugar. O amor “é o perfeito vínculo de união. Sem amor, é impossível ser feliz e se sentir emocionalmente bem, em especial na vida familiar. Quem ignora esse fato, talvez por colocar a carreira ou o dinheiro em primeiro lugar, está investindo em sua própria infelicidade.  
 
Reserve tempo para a meditação. Ouça músicas relaxantes e suaves, ria o suficiente, reencontre-se com sua criança interior. Aquela que já fomos um dia está aí dentro de nós, adormecida com o tempo, rejuvenesce-a, acorde-a, de vez em quando, Isso, com certeza, lhe dará a sabedoria necessária para aproveitar bem, não apenas seu dia, mas também bem melhor a sua vida.