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terça-feira, 4 de junho de 2019

Pessoas não nos veem como a gente se vê.

Às vezes temos a impressão que transmitimos para as pessoas exatamente o que estamos sentindo, mas isso nem sempre é verdade. A comunicação é muito mais precária do que imaginamos.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Solidão também é bom

O pavor da solidão é algo presente em muitos de nós por razões que nem sempre são muito consistentes. Em primeiro lugar, ela costuma estar associada à dor que sentimos nos primeiros tempos depois de uma separação amorosa. É claro que nos habituamos ao aconchego que deriva de uma união, mesmo que problemática.

A dor derivada da ruptura não corresponde à solidão e sim a uma tristeza que deriva da transição de uma condição para a outra. A solidão corresponde ao estágio posterior, ou seja, ao modo como vivemos depois de ultrapassar essa turbulência, por vezes bem dolorosa, típica de uma transição que, num primeiro momento, nos parece ser para pior.
 
O outro motivo para que as pessoas sintam arrepios só de pensar na ideia de ficar só deriva do que isso significava até há algumas décadas, quando estar só era indício de incompetência, de não ter despertado o interesse de ninguém com o objetivo de estabelecer um elo conjugal. As mulheres eram chamadas de “solteironas” e os homens eram objeto de dúvidas acerca de sua virilidade. Esses, entre outros, eram estigmas próprios dos que ficavam sozinhos. É fato que eram poucos os que optavam voluntariamente por esse estado; e eles mesmos achavam que o fato de não ter um parceiro era indício de alguma incompetência.
 
De umas poucas décadas para cá, tudo mudou. O número de pessoas que se casa e se divorcia é muito grande e, em muitas das grandes cidades do mundo, o número de pessoas que vivem sozinhas chega a 50% da população. Em São Paulo esse número é de mais de 15% e todos sabem que o tipo de habitação que mais se constrói e vende hoje são imóveis pequenos e centrais, próprios para quem quer viver só.
 
Hoje não existem estigmas que marcam os que estão sós, apesar de que a maior parte das mulheres ainda prefere ser divorciada do que solteira (ao menos houve alguém que as quis como esposa!). As pessoas frequentam as festas desacompanhadas sem constrangimento, viajam em companhia de amigos ou sozinhas sem ressentimentos, vão ao cinema e se entretêm com facilidade em casa com os múltiplos equipamentos eletrônicos que fomos capazes de inventar.
 
Os homens, antigamente muito pouco competentes para viverem sozinhos, hoje sabem se virar muito bem na cozinha – é fato que o micro-ondas mudou totalmente a qualidade de vida de muita gente – e não se sentem mal por ir ao supermercado ou cuidar da própria roupa. As mudanças são dramáticas e aconteceram ao longo de muito poucas décadas, de modo que não espanta que muita gente ainda não consiga ver a condição de solidão como algo alegre e eventualmente muito mais gratificante do que o convívio, um tanto forçado, com criaturas com as quais não temos muita afinidade.
 
A grande questão é: dada a extraordinária melhora da qualidade de vida das pessoas solteiras, livres inclusive para terem prazeres eróticos sem as limitações próprias dos elos sentimentais, o casamento tenderá a desaparecer? Poderá essa instituição milenar competir em termos de geração de felicidade com a adorável vida que levam os solteiros?
 
Penso que o casamento, na versão que tem ocorrido ao longo dos últimos 100 anos, está com os dias contados. Acho que a ideia de complementos, de que um terá que ser a tampa e o outro a panela, de que um terá que ter as propriedades que faltam ao outro, é algo que não resiste ao crescente prazer que a vida individual vem nos proporcionando. Ou seja, a quantidade de concessões que as pessoas estão dispostas a fazer está diminuindo não só por força de um amadurecimento emocional maior como principalmente porque elas se deleitam cada vez mais facilmente com a vida sozinhas. Quem vive bem sozinho não se dispõe a fazer grandes concessões para viver a dois.
 
Vivemos uma transição, substanciada pelos ditos populares: deixamos de lado a metáfora da “tampa e a panela” e agora falamos em “almas gêmeas”. Isso pressupõe maiores afinidades, semelhanças de caráter, gostos e interesses. Afinidades maiores tornam o convívio mais fácil, com menos concessões e, de certa forma, determinam um estilo de vida quase igual ao que se obtém vivendo sozinho. Ou seja, o convívio entre pessoas afins determina a possibilidade de uma síntese, de uma aproximação entre a qualidade de vida dos casais e dos que vivem sozinhos.
 
Assim, acho que chegaremos a um mundo novo, onde os casamentos existirão sim, mas serão muito mais respeitosos da individualidade das pessoas. É como se a qualidade de vida das pessoas solteiras se transformasse em nota de corte: os casamentos que forem de qualidade inferior à vida dos solitários tenderá a desaparecer; sobreviverão os que produzirem uma qualidade de vida melhor ainda!
  • Sobre o Dr. Flávio
  • Médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor. 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

E-BOOKS - O Mal, O Bem E Mais Além – Egoístas, Generosos e Justos

Minhas reflexões acerca dos temas da moral se iniciaram na segunda metade dos anos 1970. Decorreram de certas características que detectei ao me voltar para a análise da forma como os casais se unem. 
A regularidade com que pessoas com propriedades psicológicas antagônicas se encantavam umas com as outras me impressionou justamente porque estava completamente fora das expectativas probabilísticas. Quase todas as pessoas mais quietas e pouco agressivas casavam-se com criaturas de “gênio forte” e bastante extrovertidas. Casavam-se e ainda se casam. Em 1977 publiquei o livro Você é feliz?, no qual descrevi em detalhe a forma de ser das pessoas mais egoístas. Naquela época se iniciavam as especulações a respeito da “Era do Narcisismo”, em que parecia legal a pessoa se livrar de qualquer tipo de limite interno e tratar de viver de acordo com seus desejos. Nunca foi esse o meu ponto de vista, já que via o egoísmo como falha moral. Pensava na generosidade como virtude e no egoísmo como vício. Assim pensavam todas as pessoas “de bem”. Em 1981 publiquei Em busca da felicidade, livro no qual já apontava, de forma bastante enfática, minhas primeiras dúvidas acerca da “pureza” da conduta generosa.