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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Racismo e Preconceitos Baseiam-se, Solidamente, na Omissa Educação.

Percy Lavon Julian

 

Em seu centenário, em 1999, Percy Julian foi homenageado na Academia Nacional de Ciências americana como um dos maiores químicos de todos os tempos.


Percy Lavon Julian (11 de abril de 1899 - 19 de abril de 1975) era um pesquisador em química afro-americano e um pioneiro na síntese química de medicamentos a partir de plantas. Ele foi o primeiro a sintetizar o produto natural fisostigmina, e foi um dos pioneiros na síntese química industrial em larga escala dos hormônios humanos, esteróides, progesterona e testosterona, a partir de esteróides vegetais, tais como estigmasterol e sitosterol. Seu trabalho serviu como base para a produção da indústria de medicamentos esteróides de cortisona, outros corticosteróides, e da pílula anticoncepcional. Mais tarde, ele começou sua própria companhia de sintetizar esteróides intermediários do inhame selvagem mexicano. Seu trabalho ajudou a reduzir o custo de esteróides intermediários de grandes empresas farmacêuticas multinacionais.

Suas descobertas serviram como base para a produção de remédios para asma, anemia, artrites, hemorróidas, eczema, alergias, doenças pulmonares crônicas, câncer, glaucoma, prevenção de aborto, tratamentos hormonais, pílulas anticoncepcionais e fortificantes musculares.

Em 1954, Julian estabeleceu um laboratório próprio (Julian Laboratory) que se especializou na produção de seu cortisona sintética. Durante sua vida ele obteve mais de 130 patentes de produtos químicos. Julian foi um dos primeiros afro-americanos a receber um doutorado em química. Ele foi o primeiro químico Afro-Americano empossado na Academia Nacional das Ciências, e o segundo cientista Afro-Americano a obter pós-doutorado em qualquer área. Ele defendeu o direito dos negros de entrar em universidades até sua morte por câncer em 1975.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Amor de pai. Os pais exercem total influência na boa ou má educação.

  • Os pais exercem influência em nossa personalidade?
Até que momento da vida se verifica a influência ? Somos herdeiros do que é ruim ou o comportamento pode ser desvio do nosso caráter?
  • PSICÓLOGO: Nossa personalidade é o resultado da influencia de: Genética, ambiente, e você mesmo.
Genética: Há evidências bastante fortes de que boa parte de nosso comportamento é determinado geneticamente. Gêmeos idênticos criados separados, por exemplo, quando um sofre de depressão há grande probabilidade do outro também sofrer. Filhos de pais depressivos tem mais chance de ser depressivo, etc.
Ambiente: Aí entra com muita força a influência dos pais. Tudo o que eles ensinaram de forma intencional ou não, falando ou demonstrando, vai formando a sua personalidade. Mas não só os pais, tudo o que você vive na primeira infância, principalmente, é muito importante para a formação da sua personalidade, então professores, tios, colegas, todos tem importância.
E por fim você mesmo: Ou seja, por mais que tenha vivido desta ou daquela forma, a sua cabeça tem uma boa independência. Ou seja, as sua conclusões, interpretações, percepções são individuais e você tem boa dose de responsabilidade pelo que se tornou.
OUTRAS PERGUNTAS REFERENTES AO TEMA: ORIGENS DOS PROBLEMAS EMOCIONAIS

Porque tantos problemas psicológicos atualmente?
  • É o mundo caótico?
Esses problemas já existiam mas ninguém prestava atenção?
  • PSICÓLOGO: Ansiedade , depressão e cia... sempre existiram.
Antigamente não havia diagnóstico pra isso, ou a pessoa era louca ou sã. Hoje sabe-se que o sofrimento humano foi abafado por muito tempo pois as pessoas tinham medo de serem vitimas de preconceitos.
  • Por que na época dos nossos antepassados, não se ouvia falar em " Síndrome do Pânico " "Depressão" " Transtorno obsessivo compulsivo "
Parece que virou moda depois do século XX? Ou somente alteraram os nomes dos diagnósticos?
  • PSICÓLOGO: O que não existia era o nome da coisa. O sofrimento humano existe desde que o homem existe. Graças aos cientistas que o entendimento vem se aprimorando cada vez mais, assim como os tratamentos medicamentosos e psicoterapêuticos.
Por que uma Pessoa Fica Doida?
  • PSICÓLOGO: Muitas vezes porque a natureza quis.
Sei que é uma resposta até sem graça, mas veja bem, quem tiver resposta pra essa vai ter a mesma resposta para  as perguntas a;b;c:
a  - Porque uns tem olhos azuis e outros castanhos?
b - Porque as pessoas nascem carecas, ficam cabeludas de depois      perdem novamente os cabelos (se for um homem)?
c - Porque tem gente que nasce com uma habilidade danada pra tocar piano?

  • Mas a gente só se questiona quando o resultado da aleatoriedade da natureza não é o que gostaríamos.
A razão de nossas neuroses pode estar no passado?
  • PSICÓLOGO: Você se refere a origem de nossas dificuldades, inseguranças e ansiedades de hoje.
Sim, muitas vezes sim. Principalmente na infância, este é o momento onde estamos mais vulneráveis e somos verdadeiras "esponjas", absorvemos tudo com muita intensidade. Se fomos negligenciados, isolados ou qualquer situações assim, isto pode ficar marcado de forma a nos influenciar por toda uma vida.... se não fizermos nada para eliminarmos essa "carga".
  • Entrevista cedida pela psicóloga Marisa de Abreu para Jornal da APCD - Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas
  • Amor de pai
De acordo com uma pesquisa norte-americana (http://hypescience.com/amor-de-pai-e-uma-das-principais-influencias-na-personalidade-humana/) o amor do pai tem grande influência na personalidade dos filhos. Qual a opinião da senhora sobre o assunto?
  • Psicóloga: A personalidade de cada pessoa é composta tanto por herança genética, como as informações recebidas das pessoas próximas mas também tem uma boa dose da própria pessoa, ou seja, independente da forma como a família seja ou ds informações que recebeu cada pessoa tem sua própria expressão.
O pai é uma das figuras mais importantes, junto com a mãe correspondem a um grande “centro de informações” sobre como lidar com as diversas situações da vida. Isso não quer dizer que quem não foi criado com seu pai tenha uma lacuna em sua formação, pois o papel do pai ou as informações que um pai passaria para criança pode, e será, transmitidas por outras pessoas de seu convívio.

Qual a importância da figura masculina (paterna) no desenvolvimento dos filhos?

  • Psicóloga: O pai costuma ser aquele que mostra aos filhos como ser proativo, como ir atrás de suas metas. O homem costuma ser o provedor e esta posição dá exemplos de comportamento aos filhos quanto a responsabilidade e comprometimento com a família. Uma criança que tenha recebido estas informações, mesmo ninguém tenha dito a ela que ele deve ser responsável, apenas ver a postura do pai e preocupação em estar empenhado no bem estar da família já transforma esta criança.
De que forma as crianças podem ser afetadas quando não têm o amor paterno e o materno?
  • Psicóloga: A falta de amor pode fazer com que a criança se sinta menos merecedora de atenção. Se esta falha não for superada, a psicoterapia pode ajudar neste processo, esta pessoa poderá crescer e se tornar uma pessoa depressiva e sem motivação, entusiasmo e empenho para conquistar coisas boas em sua vida como por exemplo um bom emprego e uma família estruturada.
Em sua experiência como psicóloga clínica a senhora recebe pacientes com problemas relacionados à falta de amor dos pais? Quais são os principais problemas? De que forma são tratados?
  • Psicóloga: A falta de amor pode provocar muitas consequências. Para algumas pessoas pode até ser produtivo, pois nada impede que uma pessoa que não teve amor de seus pais decida compensar em sua vida adulta e promover o máximo de amor entre as pessoas com quem formar novas famílias.
Mas as consequências negativas podem ser bem desastrosas pois algumas pessoas podem concluir (erroneamente) que o fato de não receberem amor de seus pais seria uma prova de que eles são de alguma forma “defeituosos” e culpados pela rejeição. Esta pessoa podem tornar-se um fóbico social (timidez exagerada) pois haverá muito medo em se relacionar com outras pessoas – pois o fantasma da rejeição estará presente.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Meditação - A Arte de Viver - Meditação Vipassana


Todos buscam paz e harmonia, porque isto é o que falta em nossas vidas. De quando em quando todos nós experimentamos agitação, irritação, desarmonia. E, quando somos atormentados por esses sofrimentos, não os restringimos a nós mesmos; frequentemente os distribuímos aos outros também. A infelicidade permeia a atmosfera que circunda a pessoa que sofre e todos que entram em contato com ela também são afetados. Certamente, esse não é um modo apropriado de viver.
 

Devemos viver em paz com nós mesmos e em paz com os outros. Afinal, seres humanos são seres sociais, têm de viver em sociedade e lidar uns com os outros. Mas como podemos viver pacificamente? Como mantermo-nos em harmonia interior e mantermos a paz e a harmonia ao nosso redor, de forma que também os outros possam viver pacífica e harmoniosamente?
 

Para livrarmo-nos de nosso sofrimento, temos de saber a razão básica para sua existência, a causa do sofrimento. Se investigarmos o problema, torna-se claro que sempre que começamos a gerar qualquer negatividade ou impureza na mente, certamente nos tornaremos infelizes. Uma negatividade na mente, uma impureza mental não pode coexistir com a paz e a harmonia.
 

Como geramos negatividades? De novo, através da investigação, torna-se claro. Ficamos infelizes quando achamos que alguém age de uma maneira que não gostamos ou quando não gostamos de alguma coisa que acontece. Coisas que não desejamos acontecem e criamos tensão interior. Coisas que queremos não acontecem, alguns obstáculos aparecem no caminho, e novamente criamos tensão interior; começamos a atar "nós" internos. E, pela vida afora, coisas indesejadas continuam a acontecer e as desejadas podem ou não acontecer, e este processo de reação, de atar nós — nós górdios — faz toda a estrutura física e mental tão tensas, tão cheias de negatividade, que a vida torna-se um sofrimento.
 

Uma forma de resolver este problema é dar um jeito para que nada de desagradável aconteça na vida e que tudo aconteça exatamente como queremos. Temos de desenvolver o poder de fazer com que tudo que desejamos aconteça e o que não desejamos não aconteça, ou ter alguém com tal poder que nos ajude sempre que solicitarmos. Mas isso é impossível. Não há ninguém no mundo cujos desejos sejam sempre satisfeitos, em cuja vida tudo ocorre de acordo com sua vontade, sem nada indesejável acontecer. Fatos contrários à nossa vontade e ao nosso desejo constantemente ocorrem. Portanto, surge uma pergunta: como podemos parar de reagir cegamente às coisas de que não gostamos? Como podemos parar de gerar tensões e permanecer pacíficos e harmônicos?
 

Na Índia, assim como em outros países, pessoas sábias e santas estudaram esse problema — o problema do sofrimento humano — e encontraram uma solução: se algo indesejável ocorre e você começa a reagir gerando raiva, medo ou qualquer outra negatividade, então, você deve desviar sua atenção o mais rapidamente possível para uma outra coisa qualquer. Por exemplo, levante-se, pegue um copo d'água, comece a bebê-la e sua raiva não se multiplicará; pelo contrário, começará a diminuir. Ou comece a contar: um, dois, três, quatro. Ou comece a repetir uma palavra, ou uma frase, ou algum mantra: talvez o nome de um santo ou divindade na qual você tenha devoção. A mente se distrairá e, até certo ponto, você estará livre da negatividade, livre da raiva.
 

Essa solução foi útil, deu certo. Ainda dá. Praticando isso, a mente sente-se livre da agitação. Entretanto, essa solução atua apenas no nível consciente. Na verdade, ao desviar a atenção, você empurra a negatividade profundamente para o inconsciente e, nesse nível, continua a gerar e multiplicar a mesma impureza. Na superfície há uma camada de paz e harmonia, mas nas profundezas da mente jaz um vulcão adormecido de negatividade reprimida que, mais cedo ou mais tarde, explodirá em violenta erupção.
 

Outros exploradores da verdade interior foram ainda mais longe em sua busca e, experimentando a realidade da mente e da matéria neles mesmos, concluíram que desviar a atenção é apenas fugir do problema. Fugir não é a solução; você tem de enfrentar o problema. Toda vez que a negatividade surgir na mente, simplesmente observe-a, enfrente-a. Assim que começar a observar uma impureza mental, ela começará a perder sua força e lentamente ela murcha e desaparece.
 

Uma boa solução: evitar os dois extremos da repressão e da livre manifestação. Enterrar a negatividade no inconsciente não a erradicará; e permitir sua manifestação com ações verbais ou físicas prejudiciais apenas criará mais problemas. Mas se você apenas observar, então, a impureza desaparecerá e você estará livre dela.
 

Isso parece maravilhoso, mas será realmente praticável? Não é fácil encarar suas próprias impurezas. Quando a raiva surge, apodera-se de nós tão rapidamente que nem mesmo percebemos. Então, dominados por ela, falamos ou fazemos coisas que prejudicam aos outros e a nós mesmos. Mais tarde, quando ela passa, começamos a chorar e nos arrependemos, pedindo perdão aos outros e a Deus: "Oh, cometi um erro, por favor, me desculpe!". Mas da próxima vez em que nos encontrarmos numa situação semelhante, reagimos da mesma forma. Esse tipo de arrependimento não ajuda em nada.
 

A dificuldade é que não temos consciência quando uma impureza surge. Ela surge profundamente na mente inconsciente e, quando chega ao nível consciente, já ganhou tanta força que toma conta de nós sem que possamos observá-la.
 

Vamos supor que eu contrate um secretário particular e toda vez que a raiva surja ele diga: "olhe, a raiva está começando!". Como não sei a que horas ela começa, terei de contratar três secretários para os três turnos: manhã, tarde e noite! Suponhamos que possa arcar com isso e que a raiva comece. Assim que meu secretário me avise, "oh, veja — a raiva começou!" a primeira coisa que farei é repreendê-lo: "Seu tolo, acha que é pago para me ensinar?" Estou tão dominado pela raiva que bom conselho não adianta
 

Suponhamos que o discernimento prevaleça e eu não o repreenda. Em vez disso, digo: "Muito obrigado. Agora preciso me sentar e observar minha raiva." Será que é possível? Ao fechar os olhos e tentar observar a raiva, o objeto da minha raiva imediatamente surge em minha mente — a pessoa ou o fato que a iniciou. Logo, não estarei observando a raiva pura, mas meramente o estímulo externo dessa emoção. Isso servirá apenas para multiplicar a raiva; e, portanto, não é a solução. É muito difícil observar qualquer negatividade abstrata ou emoção abstrata divorciada do objeto externo que originariamente foi responsável pelo seu surgimento.
 

Suponhamos que o discernimento prevaleça e eu não o repreenda. Em vez disso, digo: "Muito obrigado. Agora preciso me sentar e observar minha raiva." Será que é possível? Ao fechar os olhos e tentar observar a raiva, o objeto da minha raiva imediatamente surge em minha mente — a pessoa ou o fato que a iniciou. Logo, não estarei observando a raiva pura, mas meramente o estímulo externo dessa emoção. Isso servirá apenas para multiplicar a raiva; e, portanto, não é a solução. É muito difícil observar qualquer negatividade abstrata ou emoção abstrata divorciada do objeto externo que originariamente foi responsável pelo seu surgimento.
 

Isso oferece uma solução prática. Uma pessoa comum não pode observar impurezas abstratas da mente — medo, raiva ou paixão abstratos. Mas, com a prática e treinamento adequados, é muito fácil observar a respiração e as sensações corporais, ambas diretamente relacionadas às impurezas mentais.
 

A respiração e as sensações vão ajudar de duas formas. Primeiramente serão como que secretários particulares. Assim que uma negatividade surgir na mente, a respiração perderá sua normalidade; começará a gritar: "olhe, alguma coisa deu errado!". Eu não posso repreender minha respiração; tenho que aceitar esse aviso. Da mesma forma, as sensações vão dizer que algo vai mal. Então, sendo avisados, podemos começar a observar a respiração e as sensações e, muito rapidamente, veremos que a negatividade cessa.
 

Esse fenômeno físico-mental é como duas faces de uma moeda. Em uma das faces, estão os pensamentos e as emoções surgindo na mente; na outra, estão a respiração e as sensações corporais. Quaisquer pensamentos ou emoções, quaisquer impurezas mentais que surjam, manifestam-se na respiração e nas sensações daquele momento. Logo, observando a respiração ou as sensações, estamos, de fato, observando as impurezas mentais. Em vez de fugirmos do problema, estamos encarando a realidade como ela é. Como resultado, veremos que essas impurezas perdem sua força; não mais nos dominam como no passado. Se persistirmos, elas finalmente desaparecerão completamente e começaremos a viver uma vida pacífica e feliz, uma vida cada vez mais livre das negatividades.
 

Dessa forma, essa técnica de auto-observação mostra-nos a realidade em seus dois aspectos: interior e exterior. Previamente olhávamos apenas para fora, perdendo a verdade interior. Procurávamos sempre fora de nós a causa de nossa infelicidade; sempre culpávamos e tentávamos modificar a realidade externa. Ignorantes da realidade interior, nunca entendemos que a causa do sofrimento está dentro de nós, em nossas reações cegas às sensações boas e ruins.
 

Agora, com o treinamento, podemos ver o outro lado da moeda. Podemos tomar consciência da respiração e também do que acontece dentro de nós. O quer que seja, respiração ou sensação, aprendemos a simplesmente observá-la sem perder o equilíbrio mental. Paramos de reagir e de multiplicar nosso sofrimento. Ao contrário, deixamos as impurezas se manifestarem e desaparecerem.
 

Quanto mais praticamos essa técnica, mais rapidamente as negatividades desaparecerão. Pouco a pouco, a mente tornar-se-á livre de impurezas, tornar-se-á pura. Uma mente pura é sempre cheia de amor — amor desinteressado por todos os outros; cheia de compaixão pelas falhas e sofrimentos dos outros; cheia de alegria pelo seu sucesso e felicidade; cheia de equanimidade diante de qualquer situação.
 

Quando alguém atinge esse estágio, todo o seu padrão de vida muda. Não é mais possível fazer ou falar qualquer coisa que perturbe a paz e a alegria dos outros. Em vez disso, uma mente equilibrada não apenas torna-se pacífica, mas a atmosfera que cerca uma tal pessoa também se tornará permeada de paz e harmonia, e isso influenciará e ajudará a outros também.
 

Aprendendo a permanecer equilibrado diante de todas as coisas que se experimentam dentro de si, desenvolve-se o desapego também a tudo o que se encontra nas situações exteriores. No entanto, esse desapego não é escapismo ou indiferença aos problemas do mundo. Aqueles que praticam Vipassana regularmente tornam-se mais sensíveis ao sofrimento dos outros e fazem seu máximo para aliviar tal sofrimento em tudo que podem — não com agitação, mas com a mente cheia de amor, compaixão e equanimidade. Aprendem a "santa indiferença" — como estar totalmente compromissados, totalmente envolvidos em ajudar os outros, enquanto, ao mesmo tempo, mantêm o equilíbrio mental. Dessa forma, permanecem pacíficos e felizes enquanto trabalham para a paz e a felicidade de outros.
 

Esse foi o ensinamento do Buda: uma arte de viver. Ele nunca estabeleceu ou ensinou nenhuma religião, nenhum "ismo". Nunca instruiu aqueles que o procuravam a praticar qualquer rito, ou ritual, ou alguma formalidade vazia. Ao contrário, ensinava-os a observar a natureza tal como ela é, observando a realidade interior. Na ignorância continuamos a reagir de maneiras que prejudicam a nós e aos outros. Porém, quando a sabedoria surge — a sabedoria de observar a realidade como ela é — esse hábito de reagir vai embora, desaparece. Quando paramos de reagir cegamente, então, somos capazes da ação verdadeira — ação proveniente de uma mente equilibrada e equânime, uma mente que vê e compreende a verdade. Tal ação poderá ser tão somente positiva, criativa e benéfica para nós e para os outros.
 

Logo, o que é necessário é “conhecer-se a si mesmo” — conselho dado por todo sábio. Precisamos conhecer a nós mesmos, não apenas intelectualmente, no nível teórico e das ideias; e não apenas emocional ou devocionalmente, simplesmente aceitando cegamente o que ouvimos ou lemos. Tal conhecimento não é suficiente. Mais do que isso, precisamos conhecer a realidade experimentalmente. Precisamos experimentar diretamente a realidade desse fenômeno físicomental. Só isso nos ajudará a libertar-nos de nosso sofrimento.
 

Essa experiência direta de nossa realidade interior, essa técnica de auto-observação é chamada de meditação "Vipassana". Na língua da Índia, nos tempos do Buda, passana significava ver no sentido comum, com os olhos abertos; mas Vipassana é observar as coisas como realmente são, não como parecem ser. A realidade aparente tem de ser penetrada, até alcançarmos a verdade última de toda a estrutura física e mental. Quando experimentamos essa verdade, então, aprendemos a parar de reagir cegamente, de criar impurezas — e, naturalmente, as antigas impurezas serão gradualmente erradicadas. Tornamo-nos libertados de todo o sofrimento e experimentamos a verdadeira felicidade.
 

Existem três passos para o treinamento dado em um curso de meditação. Primeiramente, deve-se se abster de toda ação, física ou verbal, que perturbe a paz e a harmonia dos outros. Não se pode trabalhar para se liberar das impurezas da mente e ao mesmo tempo cometer atos físicos ou verbais que somente as multipliquem. Portanto, um código de moralidade é o primeiro passo essencial da prática. Compromete-se a não matar, não roubar, não ter má conduta sexual, não mentir e não usar intoxicantes. Abstendo-se de tais ações, permite-se que a mente se acalme o suficiente para avançar no trabalho.
 

O próximo passo é desenvolver alguma maestria sobre essa mente selvagem por intermédio do treinamento em mantê-la fixa em um único objeto, a respiração. Tenta-se manter a atenção na respiração o maior tempo possível. Esse não é um exercício respiratório; não se controla a respiração. Em vez disso, observa-se o fluxo respiratório como ele é; como entra e sai. Dessa maneira, acalma-se a mente mais e mais, e ela não será dominada por negatividades intensas. Ao mesmo tempo concentra-se a mente, tornando-a aguçada e penetrante, capaz de realizar o trabalho de visão clara ("insight").
 

Esses dois primeiros passos, viver uma vida moral e controlar a mente, são muito benéficos e necessários por si só, mas levarão à repressão das negatividades, a não ser que se tome o terceiro passo: purificar a mente das impurezas, desenvolvendo a visão clara de sua própria natureza. Isso é Vipassana: experimentar a própria realidade pela observação sistemática e imparcial, dentro de si mesmo, de todo o fenômeno físicomental sempre em mutação e que se manifesta como sensações. Essa é a essência dos ensinamentos do Buda: autopurificação através da auto-observação.
 

Isso pode ser praticado por um e por todos. Todas as pessoas enfrentam o problema do sofrimento. Essa é uma doença universal que requer um remédio universal, nãosectário. Quando alguém sofre com raiva, não é raiva budista, hindu ou cristã. Raiva é raiva. Quando alguém fica agitado em decorrência dessa raiva, essa agitação não é cristã ou judia ou muçulmana. A doença é universal. O remédio também tem de ser universal.
 

Vipassana é o remédio. Ninguém se oporá a um código de vida que respeita a paz e a harmonia dos outros. Ninguém pode se opor a desenvolver o controle da mente. Ninguém se oporá ao desenvolvimento da visão clara de sua própria natureza, por intermédio da qual é possível libertar a mente das negatividades. Vipassana é um caminho universal.
 

Observar a realidade como ela é por intermédio da observação interior — isso é conhecer-se a si mesmo direta e experimentalmente. Conforme pratica, a pessoa continua a se libertar do sofrimento das impurezas mentais. A partir da verdade aparente, grosseira, externa, pode-se penetrar a verdade última da mente e da matéria. Então, se transcende isso e experimenta-se uma verdade que está além da mente e da matéria, além do campo condicionado da relatividade: a verdade da libertação total de todas as impurezas, de todo o sofrimento. Não importa o nome que se dê à verdade última, isso é irrelevante; esse é o objetivo final de todos.
 

Que todos experimentem essa verdade fundamental! Que todos se libertem do sofrimento. Que todos desfrutem a verdadeira paz, a verdadeira harmonia, a verdadeira felicidade.
  • QUE TODOS OS SERES SEJAM FELIZES
  • Por S. N. Goenka (palestra em Berna, Suíça)

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Mulher - Bomba anatômica que explodiu o homem e implodiu a sociedade

  • A CABEÇA DE UMA CRIANÇA É COMO UMA FOLHA DE PAPEL EM BRANCO. OS PAIS TÊM QUE ESCREVER NELA OS PRIMEIROS TEXTOS DA VIDA.
O conjunto de atividades criativas e produtivas construídas nas mulheres para atingir suas finalidades na vida é alicerçado em sentimentos e atos que exprimem e espraiam afeição, gentileza, carinho, afabilidade, bondade e outros predicados afeitos às essências mais sutis e essenciais para a vida humana.

Os homens eram ávidos pelo que é próprio e peculiar no sexo feminino, mormente pelos “frutos proibidos”. Montanhas foram removidas, batalhas ceifaram vidas e impérios caíram por essa dinâmica natural do ser humano.


É fato que, com esse valor natural, não poderia se desenvolver na consciência feminina a proposição de qualquer tipo de embate com homens. Isso deixa claro que a extrema gama de interesses masculinos, inclusive para o mal, começou a investir nos lucros insensatos da inesgotável fonte dos seus valores utilizando como arma sua ingenuidade.


Há mais de um século, homens incitam mulheres às atividades de reivindicações que chegaram às raias da guerra com os próprios homens e com diversos segmentos da vida e da sociedade. Em função dessa realidade, qualquer ponto para o qual venha a convergir a finalidade deste trabalho deve ser analisado como referência à importância da mulher no valor do ser, não na contundente influência física – independentemente da polêmica em torno do tema.


Para manter esperança de evolução sadia para a sociedade, faz-se extremamente necessário que cidadãos com procedimentos ancorados em bons valores tenham a consciência de que o corpo feminino, com tudo o que pode proporcionar em sensualidade e sexualidade, foi fator importante na mudança de comportamento da sociedade e passou a ter, perigosamente, suma importância para a construção de futuro para os jovens. A desorientação do rumo social é promovida por orientações político-econômicas e interesses de classes.


Os fatos que compõem o tema desta obra inserem elementos complexos para análise de questões e desenvolvimento de soluções no estudo da ciência social praticada pela mudança de comportamento das mulheres através dos tempos.


“Guerra é razão, independentemente do motivo da deflagração. Seres em guerra desconhecem amor e emoção.”



terça-feira, 12 de setembro de 2017

Deus e Natureza são Sinônimos ...


Deus e Natureza são Sinônimos, para minha própria convicção e interpretação desta palavra em si, uma vez que, como detetor de vasto conhecimentos científicos, ao ponto de considerar-me um homem de ciências, não poderia eu jamais admiti-lo como tradicionalmente o fazem os seguidores de doutrinas diversas, que o consideram como um mágico, uma divindade espiritual empírica virtualizada, com poderes de ação tal qual um super homem ou coisa que o valha, podendo, inclusive, em desacordo com a própria Natureza e já contrariando suas Leis, estas sim Sagradas, agir em desacordo com as Leis físicas Desta, desobedecendo, inclusive, a de maior ação de força, a Gravidade, que ninguém jamais ousou desrespeitar sem ter sérias frustrações pessoais. Isto para meu entendimento pessoal e próprio, torna-se impreterivelmente inadmissível. 

Agora sim, já sem os devidos constrangimentos, poderei, em paz, interpretar os chavões populares que, tal qual o fazem os papagaios, repetem tudo que lhes é em suas mentes incutido, dizer, como o povo: graças a Deus, interpretando como: graças a Natureza, e assim por diante, para não ser tido, pela maioria bitolada em ensinamentos, para mim desnecessários, como alguém desumano e descrente. Creio sim, na Natureza e em tudo que dela possa vir, pois sem as Leis Naturais da Física e da Química, nada e ninguém poderá criar-se ou jamais existir, a não ser num mundo paralelo virtual, fantasmagórico, Televisivo, "Midiúnico Lucrativo". A criação dar-se-á sempre num meio físico corporal, como fomos todos feitos, os animais. O resto, para mim, é coisa bem infundada, desnecessária e incoerente com as devidas necessidades da humanidade, feita de carne e osso, a maioria com bem mais ossos e pobre do que carne. 

A minoria que segue e preserva os Altos Conhecimentos da já tão evoluída Ciência, este mundo sim, o Científico, presta infindáveis favores a humanidade sem, ao meu ver, ter um vasto reconhecimento e veneração populares, como costumam fazer com suas honoráveis divindades, jogadores e políticos abastados, mantendo-os em sacrossanto altar, como se eles pudessem, de fato, influenciar, benéfica e positivamente,  em suas miseráveis vidas, seja aqui ou no Taiti.

    quarta-feira, 8 de março de 2017

    PARADIGMAS E PRECONCEITOS: Quebre-os e recomece a viver !

    • PARADIGMAS E PRECONCEITOS: 
    Uma frase atribuída a Albert Einstein agiganta um dos maiores desafios da evolução humana: o preconceito. A frase é: "é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito". O preconceito, segundo o dicionário, é conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados; opinião desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. A própria definição já indica o equívoco de sua existência e danosas consequências.
    O preconceito é responsável pela manutenção de paradigmas que têm atravancado o progresso humano. A palavra paradigma não tem uma conceituação que indique dificuldades ou males, mas como ela significa modelo, padrão, protótipo, está sujeita, em ações concretas e nos relacionamentos humanos, à ação do nefasto preconceito e suas manifestações.
    • QUEBRA DE PARADIGMAS:
    Ao longo da nossa história houve velhos paradigmas que foram quebrados, tais como:
    ... o mundo era plano;
    ... o sol girava em torno da terra;
    ... as mulheres não podiam votar;
    ... os negros eram inferiores;
    ... cabelos grandes e brincos eram somente para mulheres;
    • Como nasce um paradigma…
    Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro havia uma escada e sobre ela, um cacho de bananas.
    Cada vez que um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os pesquisadores lançavam um forte jato de água fria sobre os que estavam no chão. Não custou muito para que cada vez que um macaco ameaçava subir a escada, os demais o enchessem de pancadas.
    Em pouco tempo nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
    Os cientistas substituíram então um dos cinco macacos.
    A primeira coisa que o novo macaco fez foi tentar subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia a escada.
    Um segundo macaco foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo da surra ao novato.
    Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o fato.
    Um quarto e, finalmente o último dos veteranos foi substituído.
    Os cientistas ficaram então, com um grupo de cinco macacos que, nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.
    Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..”
    • Já dizia Albert Einstein: “É mais fácil desintegrar um átomo do que eliminar um preconceito”.
    **********
    Simplesmente, algumas idéias estão arraigadas em nossa mente desde que nascemos e passamos a viver em sociedade, por sofrermos a influência dos demais… Mister é livrar-se das (ideias) que não nos levam a nada, senão a uma eterna mantença de uma sociedade hipócrita, conservadora e preconceituosa. Portanto, abaixo o preconceito (de cor, raça, etnia, sexo), o falso conservadorismo, os falsos pudores, a hipocrisia…
    Estou falando sobre isso, porque assisti no programa do Jô, uma mulher, especialista e presidenta da associação paulista de orquidólogos (corrijam-me se eu estiver equivocado quanto ao correto termo a ser usado para designar as pessoas especialistas em orquídeas), falar que, respondendo a uma pergunta do Jô sobre qual seria a orquídea mais rara, é aquela diferente das outras; aquela que entre 100 iguais, por exemplo, vermelhas, nasce uma branca…
    Então, lembrei-me de um comercial que mostrava uma criança portadora da síndrome de down, deficiente mental, pois, cantar, dançar, fazer tudo que uma criança “normal” faz… Com o slogan mais ou menos (quem souber ao certo, favor me comunicar para eu colocar aqui, pois não me recordo) de que o normal é ser diferente. Justamente! Aquela orquídea era rara, porque guardava diferença para com as demais…
    Assim, resolvi procurar algo sobre ser diferente e achei um site que mostrava a entrevista com uma pessoa, escritora, jornalista, integrante do instituto de pesquisa internacional em sobre síndrome de down. Estou falando mais de síndrome de down por ser o caso do comercial que deu a ideia para o post, mas é bom frisar que sou contra qualquer tipo de preconceito, vez que fere o princípio da dignidade da pessoa humana ser discriminada pejorativamente (e aí não estou falando do princípio da igualdade que, segundo o eminente jurista, seria tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual na proporção de suas desigualdades), sem falar na total deselegância, em que pese estarmos vivendo em pleno século XXI, na modernidade, era da liberdade. O tema da entrevista é perfeitamente pertinente, qual seja: Está na hora de aprender que o normal é ser diferente. Concordo plenamente com a jornalista Cláudia Werneck.
    No fundo, todos somos diferentes uns dos outros, com virtudes e defeitos, erros e acertos, cada um com uma personalidade distinta… É por isso que tenho como maior filosofia o “respeito acima de tudo”. Cada um no seu cada um… Que sirva de alerta social… (Por Cirilo Veloso Moraes)


    PARADIGMAS - LEMBRAS COMO SE FORMA UM PARADIGMA?


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    quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

    FILME - O Homem Que Virou Suco (1981) - José Dumont



    • Sinopse e detalhes
    Deraldo (José Dumont) é um poeta popular recém-chegado do Nordeste a São Paulo, que sobrevive de suas poesias e folhetos. Ele é confundido com o operário de uma multinacional que matou o patrão, na festa em que recebia o título de operário símbolo. Deraldo, então, recorre ao verdadeiro assassino, a única pessoa que pode provar sua inocência.


    Data de lançamento: julho de 1981 (mundial)
    Direção: João Batista de Andrade
    Roteiro: João Batista de Andrade
    Edição: Alain Fresnot
    Produtora: Embrafilme
    Elenco: José Dumont

    O homem que virou suco é um filme brasileiro de 1981 com José Dumont e dirigido por João Batista de Andrade.
     

    "É a história de todo nordestino, o cara que chega em São Paulo, trabalha, luta, e acaba passando fome e vira suco de laranja."
     

    Tem tanta gente por ai que diz que não gosta de cinema nacional, que não gosta de literatura nacional, entre tantas outras artes, só porque é nacional. Como costumo dizer, o que falta a essas pessoas é conhecerem boas obras.
     

    No cinema nacional, o filme "O Homem que virou suco" de João Batista de Andrade, é daqueles que mudam sua opinião sobre arte e sobre a vida.
     

    O filme conta a história de Deraldo, imigrante nordestino que luta para sobreviver na metropolis paulista com sua poesia e seus cordéis. A trama começa quando em outro extremo da capital, Deraldo, um operário de uma multinacional, mata seu patrão na festa em que recebe o titulo de operário símbolo.
     

    Deraldo e Severino são idênticos, e como o nordestino não tem documentos, passa a ser procurado pela policia pelo assassinado do empresário norte americano. A partir dai a história se desdobra em uma epopeia que conta a luta de Deraldo para fugir da policia e sobreviver diante de tantas dificuldades e preconceitos sobre sua pessoa.
     

    O filme é uma homenagem e uma denuncia a todo preconceito velado sobre o povo nordestino, povo esse que construiu São Paulo sobre seu suor e que tem que lutar constantemente contra o preconceito da cidade grande, onde ser pobre, preto e nordestino é motivo de chacota e de violência. O filme mostra a dureza desse povo, que mesmo diante de tanta dificuldade, resiste, que mesmo diante de tanta opressão, luta para manter suas memórias e suas raízes.
     

    Em meio a poesia, lágrimas e suor, Deraldo resiste, e sua história é uma homenagem a todos aqueles que sofreram e que ainda sofrem na luta por uma vida digna
     

    Na abertura do filme "O homem que virou suco", de João Batista de Andrade, as gravuras iniciais, sob o extenso letreiro, mostram em tons pastéis, a cidade grande, de prédios em cima de prédios, rodeados pe favela de barracos em cima de barracos, pintada em quadro, ainda como algo abstrato, cuja realidade perversa ganha tons acinzentados na derradeira cena do filme, com imagens aéreas da cidade de São Paulo e seus concretos, que agora vão da favela, passando pelas fábricas até o centro; imagens essas que marcam as cenas pelas quais diariamente os personagens reais ilustrados no filme percorrem, da casa ao trabalho, do trabalho às suas casas; e do caminho obscuro, ainda pouco nítido, que nossa compreensão trilha do inicio do filme até o fim, onde nos é introduzida, aos poucos, a crítica à realidade dos fins da década de 1970 e inicio de 1980 na cidade de São Paulo.
     

    Nesse contexto temporal é notável o crescimento dos fluxos migratórios internos, das regiões nordestinas para o sudeste, da nova noção de espacialidade que é construída como consequência e, portanto, de um novo espaço de sociabilidade, um período de acúmulo de pessoas e investimentos industriais na capital paulista, nosso cenário fílmico, cujas primeiras cenas mostram já a contradição, a favela sobrevoada pela tecnologia.
     

    Assim a narrativa de João Batista de Andrade se torna um documento importante na visualização da problemática da migração nordestina, da luta dos retirantes para sobreviver e das suas dificuldades que vão desde a sua adaptação à nova geografia, à busca de sua identidade, de um emprego e moradia; perpassando ainda os temas relativos ao Trabalho e sua esfera vezes degradante.
     

    Não se trata somente do homem que virou suco, mas do homem que constata esse contínuo esmagar de pessoas, essa cidade grande que, como um turbilhão, faz desaparecer o que há de mais humano nos homens, sua capacidade de pensar, construir-se e compartilhar suas expressões, coisificando-os e homogeneizando seus pensamentos. Daí a beleza do personagem Deraldo, contraditório e turbulento; representante dos migrantes na capital, ele induz à questão da identidade e de ser cidadão, principalmente em um período de movimentos grevistas e crise do proletariado (1979). Deraldo representa a busca por condições melhores de vida nas quais indivíduos que vivem sob leis idênticas deveriam ter direitos idênticos.
     

    É antes a história de um homem que não quer virar suco, que se opõe à pasteurização de sua vida, que luta contra a constante opressão sofrida desde a escolha de seu trabalho que não é considerado trabalho por aqueles que lhe parecem seus iguais em desgraça, até a violência da cidade que não nota sua presença, não distingue sua diferença, e o marginaliza, condenando-o a ator de um crime que nunca cometera, ele seria mais um “Severino de vida Severina ” que não faria falta em meio à sociedade massificadora.
     

    A questão da inadequação do personagem à forma de trabalho que lhe é imposta é tema central de grande parte das cenas do filme. A distância entre poesia e trabalho braçal é mostrada no filme, não somente sobre o aspecto de suas diferenças óbvias, mas refletindo um pensamento ideológico presente na sociedade, na qual a arte ou o trabalho livre não tem grande valor, são desconsiderados como “trabalho sério”, até mesmo a questão do trabalho intelectual como a produção de poemas entra em conflito com a idéia de estabilidade conseguida em um emprego com salário regular, com horário de entrada e saída.
     

    Deraldo não se identifica com os operários, o auto-reconhecimento de seu trabalho, seu esforço, sua produção, vai de encontro à idéia de sobrevivência que é alienante. O trabalho é concebido como socialmente necessário, mesmo não sendo individualmente satisfatório, se torna um trabalho alienado, desvinculado do prazer. Não o faz por obrigatoriedade, antes que seja necessário para viver, mas pelo apreço. Através do seu trabalho como poeta objetiva sua vida e constrói sua subjetividade crítica, sendo porta-voz da experiência de vida de milhares de outros migrantes. 

    Notamos que um dos livrinhos que produz nos primeiros capítulos do filme, recebe em seu título uma crítica explícita ao estado extremo em que vivem as pessoas, de extrema pobreza provinda de extrema ganância, é intitulado como: "O homem que trocou duas pernas por um pão".
     

    As cenas seguintes à fuga de Deraldo mostram um retrato da periferia de São Paulo, as faces das crianças, mulheres e trabalhadores iluminadas pelas lanternas da polícia e seus barracos, suas vidas sofridas, as luzes revelam a realidade da população marginalizada. O personagem segue sua busca por uma resposta à situação a qual se encontrava, sem casa, sem documentos, comida e fugitivo da polícia; passa então a enfrentar suas inadequações, já que nunca esteve inserido na produção como outros operários e nunca obteve qualificação para outro trabalho senão o de ser poeta de cordéis. É obrigado a tentar se adaptar ao sistema que o molestou diretamente, dando inicio à metáfora do operariado oprimido, onde a fábrica que espreme a todos, retirando seu sumo e sua capacidade de diferenciação, expropria seu suco e cospe o bagaço.
     

    É nesse recorte do filme que encontramos o conflito entre os migrantes e suas expectativas em torno da fuga para o coração econômico do Brasil, das suas frustrações e esgotamentos. Deraldo caminhará pelos subempregos reservados para essa massa, desde a construção civil como guincheiro, setores secundários, metrô, trabalhos de mão-de-obra não-qualificadas e barata. Nota-se a experiência de vida do proletariado urbano-industrial e dos migrantes nordestinos, super-explorados diante do excedente de mão-de-obra e da escassez de emprego não-qualificado.
     

    A construção do metrô é fato importante na exibição da complexa rede urbana que São Paulo vai se tornando, com suas modernizações viárias e das comunicações, refletindo a pressão gerada pelo fluxo de pessoas nas décadas de 70 a meados de 80. O conceito de urbanização está diretamente ligado ao de concentração, tanto nos investimentos de capital, quanto na aglomeração espacial que os pólos de atração demográfica formam; Como consequência nota-se o aumento das periferias, dos residenciais de baixa-renda sob o impulso da especulação imobiliária, o aumento da violência, a difusão da pobreza, de problemas de saneamento e redes de circulação, dentre outros tantos. Todos esses fatores sobrecarregam a vida do trabalhador que não encontra espaço para respirar, oprimido pela cidade que lhe impõe sua velocidade e que cresce expulsando-os para os cantos ao mesmo tempo em que lhe atrai por sua grandeza, inovação e sonhos de melhoria das condições.
     

    Mas é enquanto guincheiro que Deraldo vivencia a precariedade das condições de trabalho de forma mais clara, em meio à construção do edifício os trabalhadores muitas vezes sem capacetes e luvas, pois tem que pagar pelo material obrigatório, colocam em risco suas vidas pela necessidade de sobrevivência. Nota-se nesse mesmo ambiente dos operários da construção civil, a problemática do analfabetismo, da baixa escolaridade, condição da maior parte dos migrantes; além da questão das famílias e vidas deixadas para trás, muitos nordestinos tentam ganhar a vida na Cidade Grande para poder retornar para suas terras natais e ajudar seus familiares conseguindo trazê-los com eles. Deraldo, agora considerado o “recruta que sabe de leitura” passa a ler e escrever para os operários da obra. A leitura da carta de Pedro Barbosa, colega de obras, é cheia de sentimentos de saudade, mas, sobretudo, de indignação com a forma como a terra perde o significado de produção de mercadorias para o sustento da família para se tornar uma mercadoria ela própria e ser vendida para os grandes latifundiários e como, dessa forma, a vida de quem vivia da terra também acaba por perder seu sentido. Aqui um dos motivos para as migrações é oferecido aos expectadores: a problemática da concentração fundiária, da mecanização agrícola em busca de maior produtividade no campo, consequenciando no êxodo rural.
     

    Após a leitura da carta um momento de emoção comove todos os operários, que talvez relembrem suas próprias histórias a partir da história de “Pedrão”. A busca por uma identidade situa-se no tocante ao encontrar-se, a tentativa de não ser somente mais um, de ter algo para se agarrar, para se identificar, em meio a uma estrutura homogeneizadora e “amorfizante” que os faz esquecer quem são, de onde vem, o que os individualiza, suas construções subjetivas. A problemática da identidade presente no filme no âmbito dos nordestinos migrantes e trabalhadores desqualificados ainda se confronta com a busca por uma identidade regional, daí surge o aumento da intolerância com a diferença, a qual aqui é transformada em desigualdade, nesse sentido o trabalhador paulistano também oprimido não vê os migrantes nordestinos como diferentes, mas sim como inferiores e portanto desiguais.
     

    No decorrer do filme apreendemos diversas significações colocadas de forma pejorativa para designar os nordestinos, retratando de forma mais clara essa inferiorização, tais quais: “pau-de-arara”, “ceará”,”norte”, “cabeça de guaiamu”, “paraíba” ou “cabeça chata”. Indo além dessas expressões naturalizadas, em "O homem que virou suco", encontramos ainda nas cenas da sala de audiovisual na seleção de trabalhadores para a construção do metrô a ênfase dada ao perfil estereotipado do nordestino enquanto um “cabra-macho” sem instrução e capaz de tudo para demonstrar sua bruteza e virilidade, a ilustração do cangaceiro remete cada operário a uma mesma identidade, naturalidade, memória histórica, esquecendo sua diversidade e manipulando seus inconscientes enquanto lhes imputa características de subempregados, subordinados, inferiores; É a partir dessa identidade criada para todos os que vem da linha acima das fronteiras do Sudeste, que legitimam qualquer tipo de maus tratos e subjugamentos, o que leva à intensificação do preconceito e estimula a marginalização desses trabalhadores migrantes.
     

    O próximo emprego de Deraldo é como empregado em uma casa de Madame, que com a visita de um coronel da Paraíba nos coloca frente às disparidades vividas no Nordeste, dos privilegiados e dos sofridos, e também o contraste da vida levada pela classe média alta em São Paulo, com suas mansões, onde seus animais domésticos se alimentam melhor do que a maior parte da população.
     

    O anti-herói aparece aqui, mais uma vez sendo despedido, Deraldo não vive em um estado de unidimensionalidade, de conformação e não-crítica. 

    Através da malandragem e das ofensas verbais poéticas, encontra uma forma de contestar e se manifestar contra a ignorância confortável das classes altas. Rouba o bife feito para o Xaxá, cachorrinho da Madame e dá para um vira-lata faminto enquanto entra na favela, passando a noite de baixo do viaduto.
     

    Cansado e faminto, Deraldo vai até a recrutação de trabalhadores para as obras da construção do Metrô, onde os empregados são preparados para o trabalho designado através de intercomunicações audiovisuais; Nesse momento há uma demonstração da nova forma de apropriação do operariado através da sua subjetividade, formas provindas com os moldes do inicio do modelo de Reestruturação na produção que era iniciado e que ganharia forças nas décadas de 90. "O homem que virou suco" apreende a síntese da reestruturação do trabalho nas cenas de Severino em meio aos processos de competição entre os funcionários, encorajados pelos industriais através de prêmios, títulos, criando um perfil de um trabalhador perfeito, símbolo, a ser seguido. Nessas cenas vemos incorporados alguns modelos de contingência de trabalhadores com os caracteres do fordismo-taylorismo de 70 e 80 até a preparação para o toyotismo, nos fins da década de 80.
     

    As cenas de diálogos entre o empresário estrangeiro e Severino mostram alguns aspectos toyotistas, mas ainda apegados aos laços da luta de classes e de formações que visam experiências coletivistas de luta política dentro dos espaços das fábricas o operariado reage a essas manipulações se unindo e se rebelando com a única forma de protesto que possuem a greve, a diminuição da produtividade por meio de manobras políticas dos sindicatos, como a operação Tartaruga.
     

    Outro ponto interessante presente no filme é a comparação de Deraldo e os outros trabalhadores com animais, quando, no momento em que o personagem percebe que o cachorrinho de sua patroa se alimenta melhor do que ele; ou, ao julgar efusivamente no refeitório do trabalho no metrô que comida com baratas não deveria ser considerada como “comida de gente”. A entrada para tal refeitório se dava através de uma passagem de um corredor de madeira, semelhante aos que os bois devem ultrapassar pra chegar até a comida, a desumanização de Deraldo no momento em que se sente totalmente inferiorizado e ridicularizado é clara na cena em que começa a emitir sons como mugidos de boi, expressando assim seu cansaço sua degradação. Deraldo é o homem-boi. Além disso, já no inicio do filme, temos a cena em que Deraldo se levanta para mais um dia de trabalho, colocando seu único par de sapatos e limpando seu rosto, tal momento aparenta como sendo o processo inverso do citado acima -aqui Deraldo tenta sair da condição precária e desumana na qual se encontra e “se humaniza” ao pentear o cabelo e limpar o nariz, gestos sutis de grande relevância para a conduta moral. Esses movimentos alternados entre humanização e desumanização no decorrer do filme refletem a realidade da subjetividade vivida pelos indivíduos em suas condições extremas de sofrimento e luta pela sobrevivência, no qual se sentem perdidos sozinhos, impotentes, sem condições psicológicas e materiais para se manter. 

    Deraldo, ao ter a ideia de escrever a história do operário que matou seu patrão, sai em busca de José Severino da Silva na perspectiva de também solucionar o seu problema com a justiça. A metáfora do operário oprimido não é nada mais que toda a experiência laboral que Deraldo foi obrigado a vivenciar após a entrada indireta de Severino em sua vida, a confusão de identidade acaba sendo consequência das formalidades burocráticas as quais todos os indivíduos têm que passar; a obtenção obrigatória de documentos que os identifiquem e distingam, enquanto que a realidade externa burla esses processos de diferenciação e individualização tornando-nos uma massa homogênea de consumidores e produtores alienados, a realidade legislativa paradoxalmente nos condiciona a status de cidadão com direitos e deveres, normas de conduta e de existência morais e éticas, que muitas vezes são extorquidas dessas pessoas, já que não possuem condições de vida coerentes com a ética pregada.
     

    Durante suas trajetórias pela metrópole, Severino e Deraldo, respectivamente, um cearense pai de três filhos e outro um trabalhador livre paraibano, se chocam com o sistema no qual estão mergulhados e que os impulsiona a encontrar soluções para manter-se, fugindo do destino de ser massa liquefeita. Cada um representa uma fase da opressão do sistema desumanizante, um com o peso do sustento de sua família em suas costas tenta fazer o possível para melhorar suas condições, tentando trabalhar e se adaptar ao modelo criado de trabalhador esforçado, batalhador que no fim muda de vida através de seu suor, mas não consegue escapar da realidade da máquina esmagadora e enlouquece, vivendo como um animal amedrontado, frustrado; Outro luta com todas as suas forças contra essa coisificação da gente, essa transformação em bagaço sem desfruto do suco, sendo um resquício dentro da sociedade de homens com ideais, história e perspectivas de futuro. São dois ângulos de uma mesma vida severina.
     

    Para finalizar, queremos salientar a música final do filme, composta por Vital, "Mourão Voltado"(*) , que é a verdadeira síntese do filme e de seus eixos temáticos: 

    • "Mourão Voltado"
    Pra que serve o Nordeste?
    Pra exportar nordestino
    E qual é o seu destino?
    é de ser cabra da peste
    De Norte, Sul, Leste, Oeste
    Na indústria ou construção
    O diabo amassou o pão
    E ficou bem amassado
    Isso é que é mourão voltado
    Isso é que é voltar mourão

    Para que serve a cidade?
    Pra viver no corre-corre
    E depois que a gente morre
    Se acaba toda a vaidade
    Pra que a necessidade?
    Pra se mendigar o pão
    Pra que serve o patrão?
    Pra dar parte ao delegado
    Isso é que é mourão voltado
    Isso é que é voltar mourão

    Pra que serve o operário?
    Pra construir edifício
    Pra que tanto sacrifício
    Pra ganhar pouco salário
    Mas quem faz esse inventário?
    Só pode ser o patrão
    E quem ganha com a produção
    O fato está consumado
    Isso é que é mourão voltado
    Isso é que é voltar mourão

    Pra que serve a natureza?
    Pra criar tudo na terra
    E pra que serve a guerra?
    Pra se conquistar grandeza
    Pra que serve a riqueza?
    Pra má distribuição
    Onde está o erro então?
    Na quantia acumulada
    Isso é que é mourão voltado
    Isso é que é voltar mourão


    (*) "Mourão" são estacas de madeira fincadas ao chão que servem como cerca para os bois não fugirem, assim uma possível interpretação da letra da canção seria a de uma comparação desses grilhões para bois como a metáfora da vida dos trabalhadores nordestinos, que como os bois se vêem cercados; o contingente exportado do Nordeste, entretanto, continua tendo suas asas cortadas na cidade, o mourão volta a assombrar suas vidas na indústria ou construção. O segundo trecho da música constata a generalização que a morte impõe, e se pergunta para que serve essa correria e essa vaidade (que os levam a mendigar o pão) se o fim é a morte em igual. Revela o trabalho árduo do operário em troca da má distribuição, as desigualdades e ilogismos da vida.

    quarta-feira, 23 de novembro de 2016

    Preconceito - Algumas Frases sobre Preconceito


    Devemos sim alimentar preconceitos contra políticos ditadores, corruptos e safados que roubam descaradamente os direitos do povo.
     
    Ser diferente não é defeito e muito menos preconceito, ser diferente é fazer parte do mundo e merecer respeito de todos!
     

    Ser arrogante é uma das formas preconceituosas de se achar melhor que os outros.
     

    Se não tivessem inventado o preconceito talvez as pessoas não sofressem tanto com essa idiotice, porém não precisa preconceito nenhum para que muitos vejam no outro àquilo que não conseguem enxergar neles próprios.
     

    Gostaria muito de poder andar pelas ruas e ver um mundo limpo de todas as sujeiras que o assolam, principalmente o preconceito.
     

    Cada um com sua classe social e ninguém tem o direito de menosprezar o outro, porque a riqueza não escolhe coração e se faz com atitudes!
    Quando as pessoas se unirem e se sentirem partes umas das outros essa burrice de preconceito será extirpada do calendário humano.
     

    Não há arma melhor contra o preconceito que o amor, ele tem o poder de subir as montanhas, arrebentar muralhas, não ver se é rido ou pobre, simplesmente acontece...