- O senso comum sobre as coisas em uma sociedade define as regras básicas do que é certo ou errado. Isto quer dizer que se a maioria ou pessoas influentes entenderem que algo deve ser feito de uma maneira, isto se torna certo. No entanto, as percepções e opiniões podem ser diferentes daquela aceita por todos os demais em uma sociedade.
Pode também incluir superstições, isto é, crenças falsas ou injustificadas (acreditar que o número 13 dá azar, acreditar que uma mulher durante o período menstrual não deve fazer bolos pois estes não ficarão bons, etc.).
Vejamos algumas das características distintivas entre senso comum e ciência.
As crenças que fazem parte do senso comum adquirem-se com base na experiência quotidiana das pessoas, na chamada experiência de vida (que se distingue da experiência científica por ser feita sem um planeamento rigoroso, sem método). Em alguns casos trata-se de experiências pessoais, em outros são experiências partilhadas pelos membros da comunidade – no decurso do processo de socialização. Em suma, é um conhecimento que se adquire sem estudos, sem investigações.
Por exemplo: para aprender onde fica a padaria mais próxima de casa ou para aprender a dar laço nos sapatos não é preciso efetuar uma investigação metódica, basta a experiência de vida.
Pelo contrário, a ciência implica investigações, estudos efetuados metodicamente.
Por exemplo: De outra forma, como se poderia descobrir a temperatura média de um planeta tão distante como Mercúrio? Como é que a simples experiência de vida podia permitir a descoberta de que a luz do Sol leva 8,33 minutos a chegar à Terra?
O senso comum é assistemático, na medida em que constitui um conjunto disperso e desorganizado de crenças (algumas constituem conhecimentos e outras não), não implicando por parte dos seus detentores um esforço de organização. Por isso, algumas das crenças podem ser contraditórias.
Por exemplo: as mesmas pessoas podem acreditar que “Quem espera desespera” e “Quem espera sempre alcança”.
Ciência é um saber sistemático na medida em constitui um conjunto organizado de conhecimentos, havendo da parte dos cientistas um esforço para que as diversas teorias se articulem entre si e sejam coerentes.
Por exemplo: Os historiadores ficariam preocupados se descobrissem que, nas suas análises de um fenômeno do passado como um acontecimento em algum lugar específico, havia afirmações sobre o relevo da zona incompatíveis com as informações fornecidas pela Geografia.
O senso comum é impreciso, na medida em que normalmente não se exprime de modo rigoroso e quantificado.
A ciência é um saber mais preciso que o senso comum. As diversas ciências, naturais ou sociais, recorrem sempre que possível à matemática, na tentativa de apresentar resultados rigorosos. Mesmo nas investigações em que não é possível quantificar (a observação psicológica de uma certa pessoa, por exemplo) existe essa procura do rigor.
Por exemplo: Seria de conhecimento geral que no Norte de um Estado qualquer chova mais do que no Sul. O conhecimento científico desse fenômeno é muito mais exato: no mês de Janeiro de 2003 a precipitação em determinado lugar situou-se entre os 20 e os 40 mm, enquanto no mesmo período em outro situou-se entre os 350 e os 400 mm (de acordo com o Instituto de Meteorologia).
O senso comum é acrítico. Acrítico significa não refletido, não examinado. É compreensível que assim seja, pois trata-se de crenças cuja aprendizagem é informal: aprende-se à medida que se vai vivendo e tendo experiências, aprende-se vendo, ouvindo e imitando os outros. Muitas vezes essa aprendizagem é inconsciente: as pessoas não têm noção de que estão aprendendo, mas vão interiorizando tradições, costumes, saberes práticos, etc. Tanto podem aprender crenças verdadeiras como crenças falsas e injustificadas (superstições).
Por exemplo: Algumas crianças, ao observarem muitas vezes os pais e outros adultos jogarem lixo no chão, aprendem fazer o mesmo e interiorizam a ideia de que esse comportamento é correto. Outras crianças – talvez em menor número – ao observarem muitas vezes os pais e outros adultos colocarem o lixo em um caixote aprendem a fazer o mesmo e interiorizam a ideia de que esse comportamento é correto. Na maior parte dos casos, tanto umas como outras realizam essas aprendizagens sem refletir, sem discutir: limitam-se a imitar. Ou seja: aprendem acriticamente.
A ciência não pode ser acrítica como o senso comum. Pelo contrário, implica uma atitude crítica por parte dos cientistas. Ou seja: para fazer ciência é preciso refletir, pensar pela própria cabeça, e ter uma preocupação permanente com a fundamentação das ideias. Os cientistas devem ter essa atitude crítica relativamente às suas próprias ideias e relativamente às ideias dos outros.
Por exemplo: um cientista que queira publicar um artigo científico numa revista tem de submetê-lo a um processo de avaliação que costuma ser chamado “refereeing”: o artigo tem de ser lido primeiro por especialistas da área; o nome destes não é divulgado e estes também não sabem quem é o autor do artigo, para que a crítica possa ser mais livre e imparcial.
- Fonte: "Pérolas da Net"