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segunda-feira, 10 de junho de 2019

INTERNET É UMA FACA DE DOIS GUMES, TODOS BEM AMOLADOS E FEREM PROFUNDAMENTE



MMS DE Jim Humble - Uma palavra de Jim Humble:

Eu quero falar sobre um avanço que pode salvar sua vida, ou a vida de um ente querido. Percebendo que encontrei “ouro verdadeiro” quando descobri o MMS, a partir desse ponto dediquei todo o meu tempo e esforço para trazer essa tecnologia para o mundo. 

- Solução MMS:

Grave em qualquer área de conhecimento, as fake news podem se tornar letais, principalmente quando o alvo é a saúde. Por redes sociais, sites de busca e aplicativos de mensagens, espalham-se milhares de receitas infalíveis, alimentos superpoderosos, estudos inexistentes e tratamentos milagrosos. 

O mais perverso: 

Doenças graves, que demandam tratamento específico e contínuo, são justamente as mais usadas para fisgar leitores desavisados. A mais recente notícia falsa é também uma das mais perigosas. Trata-se de uma suposta terapia natural que promete curar 95% das doenças existentes no mundo.

Conhecida como MMS, sigla em inglês para solução mineral milagrosa, a substância popularizou-se entre familiares de pessoas com autismo. Mas seus defensores afirmam que seus efeitos vão muito além. Com efeito antibiótico, antiviral, antifúngico, antiparasitário, entre outros, ela seria eficaz contra malária, infecções, aids, câncer e Alzheimer. O nome e a infinidade de usos já são suficientes para levantar suspeita sobre o produto. 

Mas, além da ausência de efeitos terapêuticos, a MMS, é um líquido composto de dióxido de cloro, um alvejante usado no branqueamento de tecidos e no tratamento de água. Diz Renata Fonseca, gerente de fiscalização da Anvisa: “É uma substância química com atividade corrosiva que pode causar males para a saúde. É um produto que também traz riscos pela inalação”.

Pode-se comprar a substância pronta (à venda ilegalmente em sites na internet) ou produzí-la em casa a partir de uma mistura de 28% de solução de clorito de sódio e ácido cítrico, como suco de laranja ou limão. A combinação forma dióxido de cloro, uma substância mais irritante que a água sanitária. Seu uso pode prejudicar mucosas, causar náusea, vômito, diarreia, desidratação grave, queda da pressão sanguínea e levar à morte.

A substância foi alçada à categoria de panaceia em 2006 por Jim Humble, ex-garimpeiro e fundador da Genesis 2 – Igreja da Saúde e Cura, sediada nos Estados Unidos. Reza a lenda que Humble teria descoberto o poder curativo da mistura em 1996, durante uma expedição à América do Sul. Segundo ele, algumas gotas de dióxido de cloro seriam capazes de eliminar a malária em apenas algumas horas – o que não é verdade. Atualmente, a substância é considerada um dos pilares sagrados da igreja e é recomendada para a cura para autismo, câncer, HIV, malária e Alzheimer. 

Anthony Wong, toxicologista e diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP afirma: “Ela não tem nenhuma dessas propriedades terapêuticas alegadas. A única coisa que tem é a esperança que vai funcionar”.

Não pensem que a venda de MMS é um problema local. A substância está proibida há alguns anos em países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Em 2017 a Anvisa recebeu denúncias sobre a comercialização e uso do produto no país. Desde então, a agência passou a investigar a situação e em junho de 2018 proibiu a fabricação, distribuição, comercialização e uso do MMS para a saúde. 

Recentemente, após novas denúncias de que o líquido ainda estava sendo comercializado, a Anvisa fez uma nova ação em apenas 48 horas, retirou 165 anúncios da internet. A agência atua em conjunto com marketplaces para não deixar os assuntos voltarem. Mas nada é fácil na internet. “É um trabalho contínuo. Nós derrubamos um site hoje, surgem outros amanhã”.
   
Livro polêmico
Humble tem seguidores, entre eles, a americana Kerri Rivera, que lançou o livro Curando os Sintomas Conhecidos como Autismo (editora BV Books) e o alemão Andreas Kalcker. Ambos já estiveram no Brasil promovendo a substância. Na obra, Kerri, que tem um filho autista, estimula o uso da MMS por via oral e anal para o tratamento do que ela chama de “sintomas conhecidos como autismo”, que seriam causados por uma intoxicação de bactérias desconhecidas e metais pesados do organismo. O autismo é um transtorno do desenvolvimento que se forma ainda na gestação. Não há cura e os tratamentos buscam promover habilidades sociais e comportamentais. 

As medicações apenas tratam sintomas como ansiedade, agressividade e alterações do sono. Diz Guilherme Polanczyk, psiquiatra de crianças e adolescentes da Universidade de São Paulo: “É uma fantasia e um desejo dos pais acreditar que existe uma cura tão simples assim. Mas é importante que esse desejo não atrapalhe os tratamentos efetivos nem coloque a criança em situação de risco.”

Em suas palestras, Kalcker afirma que os efeitos terapêuticos da substância já foram comprovados cientificamente, mas não há nenhum estudo publicado. Uma busca no PubMed, site que agrega pesquisas científicas publicadas no mundo, mostra apenas uma menção à solução mineral milagrosa. Trata-se do caso de uma mulher de 41 anos que teria desenvolvido a síndrome de Kikuchi-Fujimoto após tomar MMS uma única vez. Outro fato interessante é que tanto Kerri quanto Humble não assumem responsabilidade pelas informações divulgadas, sendo as consequências do uso da MMS de responsabilidade de cada um.

Notícias falsas e boatos sem fundamentos sempre existiram. Entretanto, na era digital, eles alcançaram um novo patamar e se disseminam a uma velocidade assustadora por meio de plataformas como WhatsApp, Facebook, Twitter e YouTube. Ao digitar MMS na busca do Facebook e do YouTube aparecem diversas páginas, publicações e vídeos com milhares de seguidores e visualizações promovendo a substância. Um levantamento feito por VEJA no ano passado recolheu 3000 notícias sobre saúde em seis páginas do Facebook que se notabilizaram por difundir falsidades na área da medicina. 

Destas, VEJA selecionou cerca de 1 000 que tiveram maior número de compartilhamentos. Entre elas, descobriu-se, com a ajuda de médicos consultados pela revista, que cerca de um terço divulgava falsidades inquestionáveis. Os temas mais frequentes na lista de fake news foram dieta para emagrecer, câncer e diabetes.

O problema adquiriu tamanha dimensão na saúde pública que no ano passado o Ministério da Saúde criou um canal exclusivo para checar possíveis fake news de saúde enviadas via WhatsApp, a mais obscura das redes. O aplicativo é conhecido no meio digital como dark social (rede social escura). Entre agosto de 2018, quando o canal foi criado, e abril deste ano, foram recebidas 8 134 mensagens gerais, 7867 foram respostas enviadas e 2714 fake news foram apuradas. De forma geral, os principais temas recebidos pelo canal são: vacinas, alimentação (incluindo dietas para curar doenças) e medicamentos.

Para piorar, um estudo publicado na prestigiosa revista científica Science mostrou que quando um texto falso e um fidedigno são colocados lado a lado, o primeiro tende a reluzir mais que o segundo. 

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) analisaram cerca de 126 000 mensagens divulgadas no Twitter entre 2006 e 2017 por mais de 3 milhões de pessoas. 

A conclusão: a probabilidade de as fake news serem compartilhadas é 70% maior que a de uma notícia verdadeira. Não é difícil entender o porquê. As pessoas querem soluções simples e milagrosas para os problemas.


Solução química MMS promete curar autismo mas pode levar à morte

A VERDADE POR TRÁS DO MMS

DANOS DO MMS/CD EM TECIDO: EXPERIÊNCIA CASEIRA

Fórmula é vendida com a falsa promessa da cura do autismo

quinta-feira, 23 de julho de 2015

PODER DA MULHER - Salário de Prefeito e Vereadores - Câmara aprova redução


Indignação de cidadã mobiliza cidade e vereadores desistem de aumento. Plenário foi palco de manifestação histórica em Santo Antônio da Platina (PR). Vereadores apresentaram nova emenda para reduzir os salários. Câmara aprova redução no salário de prefeito e vereadores no norte do PR. Projeto foi aprovado nesta quarta-feira (15), em Santo Antônio da Platina. Salário dos vereadores será de R$ 970; o do prefeito será de R$ 12 mil.  A Câmara Municipal de Santo Antônio da Platina, no norte do Paraná, aprovou nesta quarta-feira (15) a redução salarial do prefeito, do vice-prefeito e dos vereadores. Os novos valores passam a valer a partir dos próximos mandatos, que começam em janeiro de 2017. A cidade de 40 mil habitantes possui nove vereadores. O projeto previa inicialmente o aumento do salário dos cargos do Executivo e do Legislativo, e chegou a ser aprovado em primeira discussão, votada na terça-feira (14). Porém, no dia da primeira votação, uma empresária se revoltou com o aumento e reclamou com os vereadores. A situação foi registrada em vídeo, e as imagens se espalharam pela internet. A população acabou indo em peso à segunda votação, e o projeto inicial de aumento de salários foi alterado.
  •  Valores
De acordo com a emenda do projeto, o salário do prefeito, que iria de R$ 14,7 mil para R$ 22 mil, será agora de R$ 12 mil. Já o salário do presidente da Câmara, que passaria de R$ 4 mil para R$ 8,5 mil, vai ser de R$ 970. O dos vereadores, que subiria de R$ 3,7 mil para R$ 7,5 mil, também será de R$ 970. A alteração no projeto foi aprovada por sete votos a um. O presidente da Câmara não vota nesses casos, conforme o regimento da Casa. O projeto com a emenda passará por uma terceira votação nesta sexta-feira (17). Após isso, será encaminhado para sanção ou não do prefeito Pedro Claro de Oliveira Neto (DEM).

Droga também é a Dependência Digital para os Viciados em Tecnologia.

  • Segundo especialistas do Hospital das Clínicas (SP), 10% do total de internautas brasileiros já foram diagnosticados com um vício real: a dependência de tecnologia.
'Viciados' em tecnologia usam app, game e celular como se fosse droga. Para especialistas, dependência dá o mesmo prazer que álcool e drogas. Vício em tecnologia é 'primo' de transtornos como cleptomania e piromania.
Eles confundem dependência com tempo de conexão. Não é o tempo que passa conectado, mas a perda de controle sobre tecnologia que define um dependente”
 Um estudo da Flurry, consultoria do Yahoo, apontou que há 280 milhões de “viciados” em aplicativos para celular no mundo, mas não tem base médica. No entanto, muitos brasileiros, 10% do total de internautas segundo especialistas do Hospital das Clínicas (SP), já foram diagnosticados com um vício real: é a dependência de tecnologia, que faz suas vítimas passarem até 12 horas conectadas e, quando estão off-line, tremerem, suarem, terem taquicardia e, em casos extremos, chegarem até a tentar suicídio. O G1 conversou com alguns deles e especialistas na área.
“Eu fui tendo vários ataques de pânico em diversos momentos: dormindo, dirigindo, pilotando moto e até mergulhando, cara”, diz o despachante M.A*, de 42 anos, que passou dez anos se tratando esporadicamente com ansiolíticos (drogas para avaliar a tensão) até descobrir, em dezembro do ano passado, que um dos gatilhos para os ataques era a ansiedade por não estar conectado. “Eu vi que um dos grandes vetores da minha ansiedade era a tecnologia.”
Ele teve contato com a tecnologia aos 16 anos, na década de 80. A partir daí, novidades já aposentadas, como o Orkut, e outras em atividade, como o Instagram, entravam em sua vida assim que lançadas e logo se tornavam um vício.
“As pessoas confundem dependência com tempo de conexão. Não é o tempo que você passa conectado, mas o nível de perda de controle sobre a tecnologia que define um dependente”, explica Eduardo Guedes, pesquisador e diretor do Instituto Delete, organização que trata dependentes em tecnologia e é da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No estudo da Flurry, por exemplo, "viciado" é aquele que abre um aplicativo mais de 60 vezes por dia. (FRASE-VICIADOS EM TECNOLOGIA)
“Eu ficava depois do expediente para usar a internet. Já fiquei preso no escritório por causa disso”, disse. Apaixonado por fotos, M.A. possui uma conta no Instagram com mais de 2,5 mil publicações, média de mais de três imagens por dia. A fissura era tanta que quando viajava para seu sítio, passava até três horas editando fotos. Como o lugar está fora da área de cobertura da rede de celular, M.A. abandonava a esposa e caminhava até o alto de um morro para conseguir conexão e publicar as imagens.
“A pessoa não percebe que a necessidade de estar conectado é cada vez maior e, para obter o mesmo prazer, ela tem que usar cada vez mais. É como se fosse uma droga”, explica a psicóloga Sylvia von Enck, do núcleo de dependência tecnológica do Hospital das Clínicas. “Na medida em que a pessoa não consegue controlar esses impulsos na busca do prazer, ela vai aumentando esses estímulos.”
Por isso, explica, a dependência tecnológica é considerada um dos transtornos do controle dos impulsos, assim como a cleptomania (furtar compulsivamente), piromania (prazer em atear fogo) e tricotilomania (arrancar os cabelos).

  • Falta de controle com apps e games
Para M.A., a falta de controle também se estendia a apps e games. Tanto que ele já baixou mais de 340 programas para celular e as batalhas de “Call of Duty: Black Ops II” durante a madrugada eram o terror das noites da esposa. “Eu dizia a ela: ‘Você prefere que eu fique bebendo no bar?’” Se trocasse o joystick pelo copo, daria no mesmo. O alcoolismo, assim como o vício em outras drogas, e a dependência tecnológica produzem efeitos semelhantes de satisfação no cérebro, explica Guedes.
“No caso de uma substância química, existem elementos que interferem no funcionamento neurológico. Mas, no caso da internet, a pessoa libera hormônios que geram prazer e, com isso, fica de alguma forma aliviada quando passa muito tempo conectada, jogando ou em alguma atividade que a retire de um momento de desprazer, angústia e depressão”, diz van Enck.

  • Sem internet = abstinência
A psicóloga diz que a privação da internet funciona como uma abstinência forçada e pode gerar violência. “Nós já atendemos alguns casos de pais que foram buscar ajuda porque o ponto máximo que o filho, de 15 anos, chegou, depois de ter jogado objetos pela janela do apartamento, foi ameaçar se jogar. Em outro caso, um garoto de 17 anos pegou uma faca e tentou machucar a mãe.”
Sem ter protagonizado casos de violência, M.A. conviveu com o vício sem saber durante dez anos e só passou a se tratar no Instituto Delete após ser aconselhado por um amigo. Já o arquiteto B.R., de 29 anos procurou “o centro sem ter ideia do que estava acontecendo” em 2014, logo após ter uma crise de ansiedade enquanto assistia TV com a família.

  • Lidando com o transtorno
Sem desgrudar do celular ou do PC, ele estava sempre à espera de informações sobre trabalho e alerta ao menor sinal de notificações de aplicativos. “Se o smartphone vibrava, eu já estava olhando.” Depois de passarem pelo instituto, tanto M.A. quanto B.R. dizem conseguir lidar com o transtorno. O arquiteto brinca dizendo que virou “copsicólogo” dos amigos e já até indicou o tratamento a dois conhecidos.
A psicóloga do HC
diz, no entanto, que os pacientes nessa condição sempre terão de ficar alertas. “É uma ‘alta’”, afirma, dita assim mesmo entre aspas, pois “às vezes, acontecem situações em que a pessoa acaba reincidindo, volta a apresentar os comportamentos compulsivos.”
*Os nomes dos dependentes em tecnologia foram suprimidos pela reportagem a pedido deles para preservar a privacidade dos entrevistados

  • Use a tecnologia com moderação, alerta médica
Para a médica Ana Escobar, consultora do programa Bem Estar, devemos ficar alerta quando a pessoa deixa de ter um convívio social e quer ficar apenas conectada.
“As pessoas ficam dentro delas mesmas, sem amigos, sem compartilhar momentos. Isso pode ser um problema”.
A pediatra lembra que o alerta também vale para as crianças. 


  • G1 - Tecnologia e Games

terça-feira, 21 de julho de 2015

CRIATIVIDADE - Lua cheia - Pedalada graciosa sob a luz do luar

  • Lua cheia - Uma pedalada graciosa sob a luz do luar
Brincado de esconde-esconde, a lua cheia encantou os ciclistas.
Santuário da Mata Atlântica, a Estrada da Graciosa, no Paraná, oferece um dos roteiros mais belos do Sul do país para ser explorado sobre duas rodas. Recortando um mar verde, colorido por beijinhos e hortênsias, a antiga estrada de paralelepípedo que serpenteia a Serra do Mar guarda uma surpresa a cada curva. 

E como se tudo isso já não fosse encantador o bastante, o cenário ganha contornos quase mágicos durante a noite, quando iluminado apenas pela lua cheia.

Jogos viciantes escondem prostituição e pedofilia on line

  • FANTÁSTICO - Jogos viciantes: 
  •  
    • "Transtorno por jogos de internet"
  • Cartões clonados, prostituição e pedofilia: crimes escondidos no mundo dos jogos online.
  • Jovem de 21 anos conta que fez striptease para ter vantagens em game. Para comprar crédito, jogadores chegam a usar cartões clonados.
Tudo parece uma brincadeira inofensiva: passar de fase, ganhar poderes, ganhar prêmios e, assim, ir cada vez mais longe no jogo. O problema é que tem gente que não consegue parar. A brincadeira vira vício. E esse vício virtual abre portas para crimes bem reais, como prostituição, clonagem de cartão de crédito e até pedofilia.
Um mundo mágico, personagens fantásticos, superpoderosos, indestrutíveis. E você no controle de tudo. “Perdi, praticamente, todos os meus amigos, a minha faculdade eu tranquei”, conta uma jovem.
“Já cheguei até a 2, 3 dias sem tomar banho”, diz a aposentada Isabel Ferreira.
“Investi mais de R$ 500 mil”, revela o jogador que não ser identificado.
Mas quem são essas pessoas?
“Eles encontram na vida virtual muito mais satisfação social do que eles têm na vida real”, explica o psicólogo Cristiano Nabuco.
Estamos falando de jogos de internet, que acontecem em ambientes virtuais. O tempo que alguém dedica a esse mundo virtual é o principal sintoma de que algo não vai bem. O dia todo, a noite inteira ali dentro e a vida lá fora deixada de lado. 
O que começou como uma brincadeira se torna vício e por trás da relação doentia de milhares de pessoas com os jogos virtuais tem um lado oculto e bem real: o lado do crime.
“Aí já entra a questão do cartão clonado, pornografia, pedofilia”, afirma um homem que não quis ser identificado.
Em alguns jogos online, para avançar, passar de fases, é preciso cumprir tarefas. Conquistar armas e equipamentos, dar experiência aos personagens. Você só consegue isso com muito tempo ou muito dinheiro.
E quem não tem nenhum dos dois?
“Fazer poses, tirar a roupa, coisa erótica, coisa de homem mesmo”, conta uma jovem. Ela não quer mostrar o rosto por vergonha da família. A estudante de 23 anos não se intimidou na hora de tirar a roupa na frente da câmera do computador.
  • Fantástico: Você fez um striptease?
Jovem: Sim, fiz.
  • Fantástico: Tudo isso pelo jogo?
Jovem: Tudo isso pelo jogo.

Do outro lado da tela estava um jogador que prometia dar diamantes, que valem como moeda num dos jogos online, mas não era um jogador qualquer. Era também o que eles chamam de mediador.

  • Fantástico: O mediador está no jogo para quê?
Jovem: Mediador está lá para te ajudar na verdade.
  • Fantástico: E ele tem acesso a seus dados?
Jovem: Sim.

Os moderadores são contratados pelas empresas que controlam os jogos, principalmente onde esses games são bem populares, como no Brasil, Turquia e Estados Unidos. Eles devem ajudar os novatos a jogar e são um tipo de fiscal. Por isso, têm acesso a informações de todos os jogadores, inclusive fotos. Alguns se aproveitam desse poder para cometer crimes.
Um rapaz foi um desses moderadores e denuncia casos de pedofilia, envolvendo crianças que estavam jogando.
Moderador: No jogo tem um bate-papo, tem um chat, online, instantâneo. Você conversava normal. Pessoas anunciavam no chat, às vezes, que o moderador tinha solicitado foto da fulana X pelada para dar 100 diamantes, 200 diamantes. Então, isso era muito comum acontecer.
  • Fantástico: Com crianças?
Moderador: Com crianças.
 
Para se tornar um jogador importante nesses jogos online, parece não haver limites. Ícaro, no mundo real, é um publicitário que não mostrou o rosto. No mundo virtual, o primeiro colocado em um desses jogos online. Mas isso teve um preço alto.

Ícaro: Já cheguei a investir mais de R$ 500 mil.
  • Fantástico: R$ 500 mil?
Ícaro: Sim.

É isso mesmo! Ícaro gastou meio milhão de reais para equipar o personagem e se tornar o número um no jogo. Como prova dos gastos, ele nos mostrou o histórico recente de compras. De família rica e bem de vida, para ele dinheiro não é problema. No dia da entrevista, em apenas três horas, Ícaro tinha gastado R$ 2,5 mil em créditos.

  • Fantástico: Você é o número um. Você deve ser bem amado nessa comunidade.
Ícaro: Ah, sou bem amado e odiado ao mesmo tempo. Esse é um jogo que mexe com o ego.

Odiado porque revelou mais um crime nesse mundo virtual. Jogadores com bem menos dinheiro do que eles participam de uma fraude na compra dos tais diamantes que valem como moeda.

Ícaro: Cartão de crédito clonado, entre outras coisas.
  • Fantástico: E você conhece pessoas que fazem isso? Você sabe de pessoas que fazem isso?
Ícaro: Sei, sim.
  • Fantástico: Então, esse não é um mundo virtual apenas.
Ícaro: Não é. Exatamente.

Os diamantes que valem como créditos nos jogos são vendidos em sites de compra. Dependendo da quantidade, custam entre R$ 10 e R$ 2,1 mil, mas funcionários desses sites oferecem os diamantes pela metade do preço. Como? Os funcionários vendem os diamantes com desconto para os jogadores e ficam com o dinheiro. Depois, pagam às empresas pelo valor total com cartões clonados.

  • Fantástico: Mas cartão de quem?
Mediador: Ai que está, de quem que são os cartões? Os cartões são de várias pessoas, cartões clonados mesmo. São daquelas pessoas que, às vezes, abasteceu em um posto e sem querer o frentista foi lá e clonou o cartão.

O mediador negociou uma compra e guardou todos os e-mails que trocou com o funcionário do site de compra. As compras também são chamadas de recargas. O funcionário escreve: "Basta você fazer o pedido como se fosse comprar diamantes, normalmente, mas por boleto ou depósito. Vai pagar direto na conta que te mandar". Preocupado, ele pede aos clientes que sejam discretos: "Peço a todos que aguardem as recargas para não gerar transtorno e desconfiança entre os jogadores".
  • As autoridades dizem que nem sempre podem agir, porque os crimes não são denunciados. 
“A internet não é uma terra sem lei. As pessoas têm que acabar com esse mito de que na internet elas não são identificadas. São identificadas e devem ser punidas se praticarem crimes. O importante é denunciar”, afirma a procuradora-regional da República, Neide de Oliveira.
É só um jogo. É virtual. Um clique e tudo desaparece. Desaparece? Não é simples assim. O chamado "transtorno por jogos de internet" entrou oficialmente no manual usado por psiquiatras do mundo todo para o diagnóstico de doenças mentais. E por um motivo simples: nada é real, mas as consequências do vício são. “Esses jogos são montados de uma maneira em que, nas fases iniciais, você consegue ganhar pontos de uma maneira muito fácil e rápida, exatamente, para mexer com a sua autoestima”, explica o psicólogo Cristiano Nabuco.
Foi o que aconteceu com uma jovem de 19 anos. Ela tinha acabado de ser aprovada para uma universidade federal. Entre o vestibular e o início das aulas, seis meses de espera. O jogo seria um passatempo, mas passou tempo demais. Por causa do vício, desistiu da faculdade. “É como se fosse uma droga. É um vício muito grande e as pessoas infelizmente não têm ideia, acham que é idiotice, acham que é bobagem, que é fase, mas não é”, diz.
Ela se isolou no quarto com o computador. Vida social, contato com amigos e com os próprios pais... “Eu perdi tudo. Eu perdi tudo. Eu tinha uma vida, ela parou. Parei minha vida por causa disso”, conta a jovem.
O caminho para vencer o vício é duro. É o que conta Isabel Ferreira, que precisou ser internada. Ela jogou por quatro anos sem parar. “Foram quatro anos de perda de tempo. Foram quatro anos de ilusão, de fuga da realidade”, relembra Isabel Ferreira.
Depois de brigar com a família e desenvolver problemas de saúde graves, Isabel procurou ajuda em uma clínica em Araçoiaba da Serra, no interior de São Paulo. Na semana passada, teve alta depois de oito meses de tratamento. Os passos seguidos por Isabel para se livrar do vício são os mesmos usados por grupos como Alcoólicos Anônimos. “Eu poderia ter resolvido apenas com sentar com a minha família ou conversar com a minha filha ao invés de fugir da realidade, fugir dos problemas”, diz Isabel.
Psiquiatras dizem que esse tipo de jogo seduz ainda mais quem está com a autoestima baixa. “A vida virtual se tornou uma vida tão interessante, ele é tão bem sucedido, tão querido, tão valorizado, que a realidade concreta se torna uma realidade sem graça”, explica o psicólogo Cristiano Nabuco.
  • Enquanto isso, a indústria de games cresce, e rápido.
Uma consultoria estima que o mercado de jogos movimente US$ 91 bilhões no mundo inteiro apenas neste ano. No Brasil, o mercado de games vai na contramão da economia e cresceu entre 9% e 15% nos últimos cinco anos. São milhões de brasileiros conectados e jogando online todos os dias.
“A dica qual é: seu filho quer fazer parte de um jogo? Ele quer utilizar o videogame pela internet? Não tem problema, você pode, pode até jogar com ele se for o caso. A questão fundamental é: estabeleça um horário e um tempo de duração”, recomenda Cristiano Nabuco.
Nesse mundo mágico de personagens fantásticos e indestrutíveis, o importante é manter o controle para ser só uma diversão, porque, sem controle, a pior das batalhas é ser sair do jogo.
  • Fantástico: Você não vai voltar a jogar?
Jovem de 19 anos: Não, não vou. Não quero, não vou e não tem quem faça.
  • Fantástico: Quanto tempo você já está sem jogar?
Jovem de 19 anos: Já tem uns quatro, cinco meses.
Fantástico: Isso aqui acabou, pode fechar?
Jovem de 19 anos: Pode fechar.
  • Fantástico: Tem certeza?
Jovem de 19 anos: Absoluta.