quarta-feira, 17 de agosto de 2016

POESIAS - MICHEL TEMER - ANÔNIMA INTIMIDADE

  • Aqui não é apenas o nobre vice-presidente deste país Michel Temer embora trabalhe noutra república a do poema.
Não é somente um dos mais insignes juristas acostumado ao trato com as leis mas um jurisconsulto do verso arquitetando metáforas hipérboles oximoros símbolos que no “teclado branco” da luz se combinam. E é o verso que inventa o poeta. Não é o político que administra a memória é uma sensibilidade que ilumina a inteligência “no reino das palavras” o plural singular de um “Outro” – o “Outro” que o argentino universal Jorge Luis Borges insistia em transfigurar. E se confunde com a apresentação desta “Anônima Intimidade” como obra de ficção sendo qualquer semelhança com o autor e terceiros apenas mera coincidência. Ou talvez coincidência de um sonho noutro. E se buscarmos a origem será também sonho. Michel Temer não quer somente a “Anônima Intimidade”; quer ter a certeza de ocultar discretamente o autobiográfico no obscuro vulto coletivo. É verdade que essa matéria combustível de amor não se regula pelo Parlamento. O poeta cria seu próprio rosto mas qual o rosto da infância no humanista senão o ser maduro restaurando o menino?

A filha Clarissa chegou de carro. "Como não nos vemos tanto quanto eu gostaria, tenho que aproveitar essas oportunidades" , explicou-me ela. Enquanto o deputado recebia um grupo de prefeitos, ela disse que sua preocupação com o pai aumentou com a possibilidade de ele se tornar vice-Presidente: "Sei que ele se preparou a vida toda para isso, mas é um cargo em que ele vai ficar muito exposto. Como filha, acho péssimo, mas como brasileira acho ótimo ter uma pessoa como ele no governo." Clarissa é psicóloga. Ela disse que,  na intimidade, o pai é afetuoso e engraçado. Quando eram crianças, ele costumava contar histórias para as filhas e dizer poesias. "Ele adorava recitar 'Navio negreiro', do  Alves e 'O operário em construção', do Vinicius de Moraes", contou. Ela elogiou a formalidade do pai: "Um homem público tem que passar uma imagem de seriedade, de respeito. Um político tem que ter um discurso cuidadoso. Não pode sair falando o que dá na cabeça . É até desrespeitoso." Outro na família que se preocupa com as atividades  políticas de Temer é seu único irmão vivo, Adib, de 75 anos. O escritório de advocacia dele fica num prédio acanhado no centro da cidade. Adib costuma passar as tardes ali, embora já esteja praticamente aposentado. Tem os cabelos completamente brancos e a pele bronzeada. Como o irmão, mantém a postura ereta. O escritório é decorado com muitos bichos de pelúcia: cachorros, passarinhos, gatos expostos na  estante, e vários porta-retratos de plástico com fotos dos irmãos, dos pais e da mulher. "Não conseguimos nos ver muito. Não sei por que ele continua nisso", disse Adib. "Eu vivo dizendo para ele deixar essa vida. Falo para ele: 'Michel, você já tem tudo, tem uma família linda, suas filhas, sua mulher, e agora seu filhinho, para que continuar com essa coisa de política?' Mas ele não me ouve." Adib acha que o irmão faria muito melhor se largasse tudo e fosse aproveitar a vida. "Adoro quando ele me chama para ir à casa dele aos domingos", continuou. "É quando temos tempo para conversar. Mas isto está cada vez mais difícil. Quando não dá, e a saudade aperta, ligo a tv Câmara e fico vendo ele." 

Temer ainda estava reunido com o grupo de prefeitos quando a filha deixou o escritório.
 
No fim da tarde, voltou à sala onde estávamos. Foi até um  armário e me trouxe uma pasta com uma centena de guardanapos de companhias aéreas, anotados a caneta. Contou que, nas viagens entre São Paulo e Brasília, aproveita para escrever poesias e aforismos. Faz isso há três anos. Começou a selecionar os que mais gostava e pretende publicá-los. Uma parte deles foi passada para o computador.
  •  Leu o seguinte:
Ando à procura de mim. Só encontro outros que, em mim, Ocuparam o meu lugar. Numa folha havia um poema maior,  que ele escrevera para um irmão morto. "Recordo-me agora, toda vez que o violino toca...", começou Temer, mas a voz lhe faltou e os olhos se encheram de lágrimas.
  • Passou para outro: 
Eu desencantado desfigurado, desanimado desconstruído derruído destruído. Perguntei-lhe se havia escrito aquilo quando sofrera a derrota para presidência da Câmara. Disse que não lembrava as datas. Quis saber se ainda continuava escrevendo. Disse-me que não tinha tido muito tempo ultimamente. Escolhi um dos papéis e li em voz alta: Lamentavelmente, Tudo anda bem. Por isso, andam mal Os meus escritos. Perguntei-lhe se era essa a razão de ele ter abandonado a poesia. Ele sorriu, guardou os papéis e fechou a pasta.
  •  O operário em construção - Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes, um dos mais populares poetas brasileiros, também foi influenciado pela "corrente espiritualista" e pelo Neo -Simbolismo no início de sua produção poética, mas com o passar do tempo sua obra passou a tematizar o amor sensual e os problemas sociais.
 
Em “O operário em construção”, o poeta descreve o processo de tomada de consciência do trabalhador  da  construção  civil  que  tem  o  trabalho  como  base  de  seu  sustento.  De  operário alienado  a  homem  livre,  as  imagens  ligadas  à  construção,  torcem  e  contorcem  ideias  de  liberdade e escravidão. Assim como a “casa” e o “templo”, o homem também vai sendo construído,  apesar  de  desconhecer,  ignorar  e  não  compreender,  inicialmente,  o  valor  de seu trabalho.