domingo, 8 de janeiro de 2017

Vida bela - Cada ser humano possui um mundo único..

A vida é belíssima, mas não é tão simples vivê-la. Às vezes, ela se parece com um imenso jardim. De repente, a paisagem muda e ela se apresenta árida como um deserto ou íngreme como as montanhas. Independentemente dos penhascos que temos de escalar, cada ser humano possui uma força incrível. E muitos desconhecem que a possuem.
Para provar isso, vou contar-lhe uma história real e impressionante de alguém que possui uma capacidade descomunal de lutar pela vida e que um dia foi o maior vencedor da Terra, o mais corajoso dos seres. Sabe quem? Você! Duvida? Deixe-me contar alguns fatos relevantes da sua biografia que talvez você desconheça!
Um dia você foi inscrito para participar do maior concurso do mundo, da maior corrida de todos os tempos. Acredite, você estava lá! Eram mais de quarenta milhões de concorrentes. Pense nesse número. Todos tinham potencial para vencer e só um venceria. Será que você era mais um número na multidão ou tinha algo especial?
Analise quais seriam as suas chances. Zero, zero, zero, zero, zero, zero, zero, zero, quatro (0,000.000.04). Você nunca foi tão próximo de zero. Suas chances eram quase inexistentes. Tinha tudo para ser mais um derrotado, tinha todos os motivos para ser um grande perdedor. Qualquer um acharia loucura participar dessa corrida. Mas você participou e ainda achava que iria vencer.
Talvez fosse melhor desistir e se conformar com a derrota. Mas você era o ser mais teimoso do mundo, sua garra era incrível. Por isso jamais admitiu recuar. A palavra desistir não fazia parte do seu dicionário genético. Por quê? Porque, se perdesse essa corrida, perderia o maior prêmio da História. Qual?
A VIDA - Que disputa era essa? A disputa do espermatozoide para fecundar o óvulo. A corrida pelo direito de formar uma vida. Talvez você nunca tenha imaginado, mas já participou da mais excitante e perigosa aventura da existência. Seria mil vezes mais fácil vencer as eleições para presidente de seu país. É incrível, mas você venceu! Como você conseguiu?
Seria também mais fácil ganhar dezenas de prêmios de melhor ator ou atriz. Você foi surpreendente! Sinto-me honrado em tê-lo como leitor. Mas cada ser humano não foi um vencedor? Sim! Contudo, esta é a sua biografia. Somente alguém com uma força descomunal como a sua poderia vencer uma corrida com milhões de concorrentes pisoteando-o, pressionando-o, ultrapassando-o. Contudo, hoje, os tempos mudaram. Se alguém pisa no seu pé, você perde a paciência. Se alguém o pressiona ou o critica, você se estressa e desespera. E se alguns concorrentes estão à sua frente, você desanima e tem insônia. Volte a suas origens! Naquela época nada o abalava. Quem o controlava era o sonho de estar vivo, não os seus problemas ou seus concorrentes.
Você foi um grande sonhador. Sonhou sem ter capacidade de sonhar. Sonhou, através do seu programa genético, com o espetáculo da vida. O que você pensou na grande corrida? Nada! Você ainda não pensava. O passo mais importante da vida foi dado na ausência das ideias. Você agiu antes de pensar. Entretanto, hoje você deve pensar antes de agir. Quem reage sem pensar atira sem pontaria.
Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerces. Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos para executar seus sonhos. Melhor é errar por tentar do que errar por se omitir! Não tenha medo dos tropeços da jornada. Não se esqueça de que você, ainda que incompleto, foi o maior aventureiro da História.
Vamos analisar suas façanhas para conquistar o pódio da vida para que você fique plenamente consciente das batalhas que superou. Você sabia que foi o maior alpinista do planeta? Não? Vou contar a história sintética de dois grandes alpinistas que conquistaram o topo do mundo para mostrar-lhe que você foi o mais corajoso alpinista de todos os tempos.
Na primavera de 1953 ocorreu um feito notável. Uma expedição internacional chegou ao Nepal com a grandiosa ambição de escalar o topo do mundo, o Everest. Eram 8.550 metros de altura. Uma façanha enorme! Um desafio dramático. A brancura do gelo vestia as montanhas e produzia medo e excitação no solo da emoção. Muitos já haviam tentado. Alguns desistiram no meio do caminho, outros simplesmente morreram. Morreram congelados, soterrados pelas avalanches de gelo, por asfixia, devido ao ar rarefeito, ou pelo mal das montanhas, caracterizado por tontura, falta de ar, dor de cabeça, hemorragia nasal e até perda da consciência.
Dois homens simples, sem fama, mas extremamente ousados faziam parte da expedição: Edmund Hillary e Tenzing Norgay. Eles partiram para a glória ou para o caos. Era mais prudente desistir. Mas um projeto saturava a emoção deles. Se os seus projetos não saturarem a sua emoção, você não terá perseverança para executá-los.
O corpo esfriava e a alma tremia com medo de avalanches à medida que avançavam. Os pulmões estavam ofegantes. De repente, fatigados, chegaram a mais um topo. Seus olhos brilharam. Então descobriram que haviam chegado ao topo do mundo. Quando desceram, o mundo ficou sabendo da extraordinária conquista.
Todos ambicionam chegar ao topo de alguma coisa. Uns querem chegar ao topo da fama; outros, da eficiência profissional, da hierarquia acadêmica, do poder financeiro. Outros, mais sábios, almejam atingir o topo da qualidade de vida, o auge do sentido da vida, os patamares mais altos da tranquilidade. Você quis chegar ao topo da vida.
A conquista do Everest por Hillary e Norgay foi um momento inesquecível. Mas, tenha convicção, você foi o maior alpinista do mundo. Naquela época sua capacidade de lutar era imensurável. Você era pequeníssimo, mas ousado. Hoje você é grande, mas sente-se pequeno. Por quê? Porque as barreiras o assustam e, às vezes, o paralisam. Lembre-se de que, comparando o tamanho do espermatozoide com as montanhas que teve que escalar dentro do útero de sua mãe para fecundar o óvulo, você escalou centenas de montes Everest. Nada podia detê-lo. Quando temos um grande sonho, nenhum obstáculo é grande demais para ser superado.
Todavia, é possível que, hoje, você veja seus obstáculos e tenha se tornado um especialista em reclamar e não em agradecer. Por isso, não consegue deixar de falar da crise financeira, das pessoas que o ma­chucam e das frustrações da vida. Talvez você gaste energia excessiva com as críticas que recebe e com coisas que prejudicam o encanto pela vida. Desperte!
Vamos continuar a ver as suas peripécias para fecundar o óvulo e se tornar um ser humano. Conhecer os perigos enormes que você correu e as façanhas que você fez para estar vivo hoje é fazer um laboratório de autoestima.Você sabia que, no começo da vida, não apenas foi o maior alpinista da História, mas também o maior nadador do mundo?
Você nadou sem barco de apoio, bússola ou outra tecnologia para fecundar o óvulo. E, além disso, tinha de atingir um ponto minúsculo sem ter o mapa do alvo. Imagine sair a nado da Europa até os EUA e atingir um alvo pequeno como um ovo de páscoa. Sua pontaria foi incrível! Você bateu todos os recordes imagináveis de nado livre.
Você deveria estar nas páginas do livro dos recordes. Por isso, nunca diga que você não realizou nada de extraordinário. Se você se distraísse, perderia a disputa. Se desistisse, morreria. Seu destino era vencer. No início você era apenas uma célula. Mas, em seguida, ela se dividiu e, em poucos dias, desdobrou-se em milhões. Na lógica da vida dividir é aumentar. Dividir as conquistas multiplica a felicidade. Siga sempre a lógica da vida. Você foi tecido de modo assombrosamente maravilhoso no ventre de sua mãe. Nem todos os computadores do mundo unidos são tão complexos como você. A ciência é uma criança para explicar o espetáculo da vida que pulsa em seu ser. Nunca despreze a vida.
Você cresceu no útero materno e foi envolvido numa bolsa de líquido amniótico. Era uma deliciosa piscina. Nela, você movia-se sem parar. Virou mais de quinhentas cambalhotas e chutou mais de mil vezes por dia sua mãe. Você era muito travesso, mas sua mãe o achava lindo. Você foi o maior chutador e o maior malabarista do mundo.
Mas o útero era um mundo pequeno demais para as suas aspirações. Então você se encaixou no colo uterino e esperou cada minuto até que alguém abrisse a porta. Se pudesse, gritaria: "Me deem passagem!" Você era decidido. Já havia vencido a grande corrida da vida, agora mostrava uma coragem arrebatadora para entrar no jogo social.
Hoje você procura lugares calmos e sem tumultos, naquela época ninguém o seguraria na barriga de sua mãe. Queria dar a cara ao mundo. De repente... Incrível! Abriram a porta. Você nasceu! Todavia, espere! O mundo começou a desabar sobre você. Aspiraram seu nariz, te amassaram, a luz agrediu seus olhos. Você suspirou: "Que sufoco!"
Só lhe restava abrir a boca e berrar! Todos diziam: "Que choro lindo!" Mal sabiam que você estava expressando: "Devolvam-me para onde eu estava!" O choro o aliviou. Chorar foi a primeira coisa que aprendemos no mundo e foi a primeira que represamos. Não tenha medo de chorar. Os grandes homens também choram... Nos primeiros meses, você não sabia falar uma palavra, mas todos queriam falar com você. Mas, quando aprendeu a falar e precisava que alguém o ouvisse, quase todos se calaram. Sem o diálogo, nossas histórias não se cruzam, ficamos ilhados em nossas emoções. Mas, infelizmente, o diálogo é uma ferramenta que está morrendo nas sociedades modernas. Que mundo estranho!
De fato, esse mundo é incompreensível. Quando as crianças nascem elas são especiais, o centro do mundo, mas pouco a pouco muitos adultos as deixam na periferia de suas vidas. Os beijos e as carícias evaporam-se. Os pais trabalham para o futuro dos seus filhos, querem lhes dar o mundo, mas não têm tempo para dar a si mesmos. Eles precisam ter uma alma de criança para penetrar no mundo das crianças.
Ao nascer, a memória de uma criança parece uma esponja, absorve tudo, arquiva inúmeras experiências. Foi assim que aconteceu com você. Nos computadores, o registro das informações depende de um comando. Na memória humana, ele é automático e involuntário, produzido pelo fenômeno RAM (Registro Automático da Memória). O fenômeno RAM se tornou o artesão de sua inteligência.
Diariamente, milhares de pensamentos e emoções foram registrados. As experiências com grande volume emocional foram arquivadas privilegiadamente. Desse modo, o medo, carinho, rejeição, correção, apoio foram tecendo a colcha de retalhos de sua memória consciente e inconsciente. Cuidar do que você arquiva é acarinhar a sua vida. Você sabe cuidar de si mesmo? Múltiplos fenômenos foram lendo sua memória e produzindo milhares de pensamentos diários que foram registrados novamente, num ciclo contínuo. E você, sem perceber e sem nin­guém lhe ensinar, aprendeu a entrar na sua memória e, em meio a bilhões de opções, resgatar os verbos, os substantivos, os adjetivos e produzir as cadeias de pensamentos. Sua mente é insondável, mas talvez você nem perceba.
Sem saber o endereço de uma pessoa, é possível encontrá-la em São Paulo ou em Nova York. Talvez demore anos para achá-la. Mas como você encontra, em frações de segundos, as informações na "grande cidade da memória" sem saber seus endereços? E como as organiza para produzir milhares de ideias? Sua inteligência é um mistério. Encante-se com ela. Jamais duvide que você possui uma biografia espetacular.
Depois de arquivar milhões de pensamentos na sua memória, surgiu algo ainda mais fantástico: a consciência. Milhões de livros são insuficientes para explicá-la. Através dela descobrimos que temos um "eu" e que somos um ser exclusivo no teatro da vida. Através dela construímos as relações sociais, amamos, sentimos falta das pessoas e procuramos romper nossa bolha de solidão.
A personalidade foi, assim, confeccionada de maneira multifocal e bela. Se você é negativista, inseguro, corajoso, sonhador, isto se deve à história escrita em sua memória. Você interpreta o mundo pelas janelas da sua história. Ela contém milhares de arquivos com bilhões de informações. Você não pode deletar a sua memória, nem as experiências dolorosas nem as prazerosas. Ela só pode ser reescrita. Como? Aplique a técnica do DCD (duvide, critique e determine). Duvide de tudo aquilo que controla sua emoção e conspira contra sua vida. Critique cada pensamento negativo. Critique a passividade do "eu". Critique seu conformismo e reflita sobre as causas de seus conflitos. Determine ser alegre, seguro,' feliz. Dê um choque de lucidez em sua emoção, arquive novas experiências! Seja autor e não vítima de sua história.
O homem é líder do mundo em que está, mas não é líder de seu mundo psicológico. A técnica do DCD deve ser feita diariamente com emoção e realidade e durante pelo menos seis meses. Ela contribui para reeditar o filme do seu inconsciente. Você não pode apagar o filme de sua vida, mas pode reeditá-lo. Não há milagre para mudar a personalidade, mas é possível treinar a emoção para ser feliz.
Ao longo da formação da personalidade nos tornamos seres que pensam e que podem mudar a nossa história, privilégio indizível da espécie humana. Somos uma espécie inteligente num universo desconhecido. Só não se encanta com a vida quem está sufocado por preocupações, atolado com suas atividades e não consegue ver além da cortina das suas dificuldades.
Cada ser humano possui um mundo único no palco da sua alma e espírito. Descubra-o. Reis e súditos, miseráveis e abastados são igualmente ímpares. Acima de sermos negros, brancos, árabes, judeus, americanos, somos uma única espécie. Quem almeja ver dias felizes precisa aprender a amar a sua espécie tanto quanto o seu grupo social.

  • FONTE - >      E-BOOK - Augusto Cury - Você é Insubstituível