segunda-feira, 3 de abril de 2017

Psiquê Moderna - Corações Descontrolados (Transtorno de Personalidade Borderline)

O que será que será 
Que
de dentro da gente e que
não devia
Que desacata a gente, que é
revelia
Que é feito uma aguardente que
não sacia
Que é feito estar doente
de uma folia ....
0 que será [a flor da pele] — Chico Buarque de Hollanda

  • Desta vez se a memória não me falha, posso recordar tudo como se estivesse vendo um grande filme de ação na sala de cinema mais equipada.
Era final da tarde do dia 23 de dezembro de 2009 eu fazia uma caminhada pela praia do Leblon aqui no Rio de Janeiro. Resolvi parar e sentar em um quiosque, pois não consegui resistir ao por do sol que ja se iniciava e fazia do morro Dois Irmãos o ponto mais luminoso e destacado da cidade. La estava eu novamente frente a mesma cena que já havia visto milhares de vezes, desde a minha infância. Naquele dia, como em tantos outros em que parei para assistir ao astro-rei se despedir em seu apoteótico "boa noite e ate amanha" tive a impressão de sempre aquele era o mais belo por do sol que ja tinha visto. Acho que todo carioca passa por isso ficamos sempre encantados com a beleza da geografia e da luminosidade da cidade maravilhosa. Sentada ali no quiosque, sorvendo lentamente uma agua de coco fui tomada por uma sensação de pura felicidade. e um único pensamento invadiu minha mente "isso e uma droga do bem". Tive a certeza de que o "vicio" de ser carioca jamais seria superado nessa minha tênue existência. Naquele exato momento tudo era mágico, as pessoas na areia, o mar calmo em tons dourados, bicicletas coloridas, bolas de vôlei, ritmados atletas disciplinados e muitos turistas e jovens em ferias escolares faziam a figuração para que o astro da cena finalizasse a sua atuação do dia em grande estilo. Nada no mundo poderia me ser mais prazeroso que aquilo.

0 sol se foi tão rápido, mas o "negativo" de sua luz ainda permanecia em minhas retinas. Fiquei ainda ali por alguns minutos como se quisesse parar o tempo e enlatar aquela sensação maravilhosa, para poder resgata-la em momentos futuros quando a vida carece de luminosas certezas. São os dias sim que nos fazem superar os dias não e, naquela tarde o dia era todo sim.

Logo que me levantei para retomar minha caminhada meu celular começou a tocar de forma insistente. Era Vitoria. uma velha amiga que desde a adolescência sempre esteve presente em minha vida. de forma bastante peculiar. Ela era meiga. carinhosa e muito intensa. capaz de fazer qualquer coisa por seus amigos "da hora" e "amores" do momento. Vitoria tinha o dom de arranjar amores a primeira vista e amigos novos que em apenas dois ou três dias. se tornavam seus melhores  "amigos de infância". 

Quando estava apaixonada, sumia e vivia de amor sem deixar rastros ou sinais de vida. Por outro lado quando suas relações acabavam ela surgia com a força de uma tempestade trazendo ventos e caudalosas enxurradas de lágrimas. Sempre que isso acontecia. Vitoria jurava que a vida tinha acabado e que nada mais fazia sentido, mas antes de "partir dessa para uma melhor" precisava rever os amigos fieis para agradecer por tudo e receber os últimos abraços e o aconchego verdadeiro de sua vida.

O telefone tocando insistentemente piscava Vitoria, Vitoria, Vitoria. Rapidamente percebi que a vibe de paz e êxtase tinha chegado ao fim, e algo bem diferente se anunciava naquele final de tarde.
Decidida e de volta a realidade atendi o telefone com voz firme: