Qual o verdadeiro significado do sentido de vida?
Existem muitos filósofos, desde os primórdios de nossa sociedade, e psicólogos de diferentes teorias que se dedicaram a escrever e discutir sobre o sentido da vida. Eles sempre contribuíram com seus próprios pensamentos a partir de suas perspectivas, mas todos concordaram que o sentido da vida está em ter um propósito, em saber o porquê está vivendo. O sentido da vida também pode ter como significado uma direção, um caminho, ir para um lugar. Além da Filosofia e Psicologia, as diferentes religiões têm se preocupado com o sentido da vida, sendo as respostas dependentes de suas crenças e valores.
A psicóloga Tatjana Schnell (2009, citado por RETZBACH, 2018), da Universidade de Innsbruck na Áustria, descreve que o sentido da vida pode ser reconhecido por meio de quatro características:
1) Significado, ou seja, a sensação de que o que está sendo feito importa, que faz a diferença.
2) Pertencer é a sensação de que você tem um lugar no mundo.
3) Coerência, se o que acontece na vida é harmônico e congruente, e
4) A orientação, conhecendo os valores e objetivos que a definem (RETZBACH, 2018).
A pessoa que tem sentido de vida, reconhece essas características em sua vida e vive de forma congruente com suas percepções e valores pessoais. De qualquer forma, aqui vamos nos concentrar mais em uma compreensão psicológica do sentido da vida.
É necessário encontrar um sentido de vida?
Os seres humanos têm necessidades básicas de natureza e características diversas. O psiquiatra austríaco Viktor Frankl, autor do livro “Em busca de sentido”, defende que nem só de necessidades básicas vive o ser humano, ele chama de “vontade de sentido”, pela qual os humanos buscam, antes de qualquer coisa, estabelecer o real sentido da vida. Essa pergunta visa responder o motivo da existência, que por muitas vezes é desafiadora, portanto, se há um propósito de vida, as mazelas da vida ficam mais fáceis de serem superadas.
O sentido da vida nos proporciona uma vida mais plena: ela ativa nossas emoções, fortalece nossa autoestima, nos dá segurança, assim valorizamos mais o que fazemos, nos ajudando em nossa percepção de si. Sabendo quem nós somos, conseguimos olhar para outros e nos facilita o construir relacionamentos mais profundos. Complexo, não é mesmo?
Quando conseguimos visualizar o sentido da nossa vida, sentimos que valemos e que ocupamos um lugar importante no mundo. Não somos mais um no meio de uma multidão, mas somos alguém que veio cumprir essa missão ou propósito.
O sentido da vida nos dá uma direção, marca o caminho que se deseja percorrer, nos dá importância e nos fortalece. Permite-nos contactar com as nossas emoções mais profundas e relacionarmo-nos com os outros de uma forma autêntica.
Consequências de um viver sem sentido
O sentido da vida nos liberta de sentimentos de angústia e incerteza que podem nos adoecer. Não é que não se pode viver sem sentido, sempre há momentos em que você pode se sentir um pouco perdido, não há problema em se perder algumas vezes para se reencontrar, isso até faz parte do processo de amadurecimento. Nesse encontro novamente é onde entramos em contato com nossa autenticidade e nossa vitalidade retorna. O problema está em viver sem sentido, pois muitas vezes o vazio existencial impera a vida.
A ansiedade torna os caminhos mais estreitos, enquanto o significado nos abre, nos dá possibilidades de viver. É por todos esses aspectos que o sentido da vida é tão importante, pois se queremos uma vida completamente plena e saudável, não poderia deixar de ter sentido. Quando o sentido de vida não pode ser percebido, é a paralisação que nos guia, vivemos “empurrando com a barriga”. A vida perde o encanto de ser vivida, vira um peso e um pesar.
Estas são algumas consequências de viver uma vida sem sentido, que pode ser algo constante ao longo do tempo ou apenas um momento de crise no tempo:
Presença constante de sentimentos de vazio ou tristeza;
A pessoa não se reconhece, não sabe o que lhe caracteriza;
Presença da apatia: experiências antes prazerosas já não trazem bem-estar;
Distanciamento de outros: a falta de sentido faz com que a pessoa queira se recolher e evitar interações sociais.
Pesquisas demonstram que pessoas com um sentido de vida têm melhor saúde física, psicológica e emocional e são mais felizes. São seres mais sociáveis, otimistas e gerenciam melhor o estresse. O ter um sentido de vida abranda as consequências negativas do estresse. As pessoas que dão uma razão à sua existência sofrem menos doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais e demências. Aprender que a própria vida tem um significado especial ajuda a superar situações estressantes e cultivar hábitos benéficos para o desempenho cognitivo do cérebro. As pessoas que veem sua vida como significativa são mais orientadas para objetivos e resilientes (THIVISSEN, 2018).
As intervenções terapêuticas de saúde se tornam mais fácil para as pessoas encontrarem sentido na vida e contribuem para o tratamento de determinadas doenças. Os processos inflamatórios são menores para aqueles que conseguem realizar o sentido em suas vidas (RETZBACH, 2018; THIVISSEN, 2018). Percebam que refletir sobre isso se torna fundamental! Isso me fez pensar, e você? Como anda sua jornada existencial em busca de sentido?
Como encontrar o sentido da vida?
Muitas pessoas querem encontrar sentido em suas vidas obtendo algo material ou externo, quando na realidade a experiência e as teorias mostram o oposto. O sentido da vida é algo individual em cada ser humano. Dito isto, não há uma única maneira de encontrá-lo. Embora possamos dizer que nasce de dentro de nós e depois se expressa fora. Encontrá-lo não significa apegar-se a ele. Encontrá-lo significa que estamos vivendo em harmonia com nós mesmos, em busca da congruência entre sensações, sentimentos, percepções e ações congruentes.
O sentido da vida, além de singular, é subjetivo. Essas características deixam muitas pessoas ansiosas e angustiadas, mas há beleza na liberdade da construção de um sentido. Não se trata de encontrar o sentido da vida, mas de viver COM sentido a nossa própria vida. A palavra sentido traz pistas dele: o que lhe toca, o que lhe faz SENTIR? O que faz com que seu corpo se sinta bem? O que lhe traz um senso de conexão? Essas perguntas podem que ajudar a explorar novas escolhas com mais atenção.
Agora retomamos a questão de como buscar em nós mesmos o sentido da vida. Para que isso não fique em um lugar abstrato na mente, se faz necessário momento de introspecção para-se alcançar sentido.
Seguem algumas dicas de perguntas a serem exercitadas em seu cotidiano:
Faça perguntas a si, buscando se reconhecer em suas ações e insista, mesmo que não tenha uma resposta imediata.
Observe suas emoções e sentimentos, eles podem dar pistas preciosas na busca de sentido.
Faça exercícios de consciência corporal, como a meditação, se acessar é chave para encontrar o que lhe representa na vida.
Pesquise e estude sobre temas que genuinamente lhe interessam.
Pratique o uso de sua imaginação e criatividade.
Meditar pode ajudar a se conhecer e construir uma vida com mais propósito.
O significado de viver é dinâmico, ou seja, pode mudar ao longo de nossas vidas. Não temos que nos encaixar. O significado também não precisa ser único, talvez encontremos vários significados que nos fazem sentir bem em um momento específico. Não é simplesmente algo concreto, mas é o poder de fazer coisas. Como disse Erich Fromm: “o sentido da vida nada mais é do que o ato de viver em si mesmo” e Viktor Frankl, afirma que o poder de decidir, mesmo em circunstâncias de extremo sofrimento, dá liberdade ao ser humano, dá-lhe sentido. Isso significa que cada ser humano tem a oportunidade de percorrer, em qualquer circunstância, seu próprio caminho.
A vida é diferente se a vivermos com significado, dando valor a tudo o que nos vivemos, permitindo assim o crescimento pessoal e individual. É muito importante entender que o sentido da vida está em nós e não em algo que vem de fora. É por isso que cada pessoa deve encontrar seu caminho pessoal, pois o sentido da vida é individual em cada ser humano. Aí reside a sua complexidade. Procure conhecer mais e entender o que faz sentido para você.
Referências consultadas:
RETZBACH J. La felicidad se construyecon sentido, Revista de Psicología y Neurociencias, Mente y Cerebro, Mayo – Junio, Barcelona, 2018.
THIVISSEN P. La importanciadel sentido de la vida, Revista de Psicología y Neurociencias, Mente y Cerebro, Mayo – Junio, Barcelona, 2018.