terça-feira, 8 de novembro de 2016

Arte da Fala - Falar é uma arte - A ESCUTATÓRIA também...


  • A arte de calar
O silêncio é um momento vivificante, em que a criatura se cala, mas o coração fala. 
Calar sobre sua própria pessoa, É HUMILDADE.

Calar sobre os defeitos dos outros, É CARIDADE.

Calar quando a gente está sofrendo, É HEROISMO.

Calar diante do sofrimento alheiro, É COVARDIA.

Calar diante da injustiça, É FRAQUEZA.

Calar quando o outro está falando, É DELICADEZA.

Calar quando o outro espera uma palavra, É OMISSÃO.

Calar e não falar palavras inúteis, É SENSATEZ.

Calar quando não há necessidade de falar, É PRUDÊNCIA.

Calar quando interiormente nos fala o coração, É SILÊNCIO.

Calar diante do mistério que não entendemos, É SABEDORIA. 

Precisamos saber dosar as horas em que devemos nos calar e os momentos que necessitamos falar. Falar é prata e Calar é Ouro. 
 - Autor desconhecido
  • A ARTE DE OUVIR….E SABER CALAR
Até esse dia eu não havia conhecido o termo utilizado pelo escritor Rubem Alves para designar a arte de saber ouvir: “escutatória”.
 
Esse é um texto que, apesar de não ter sido escrito por Buda ou qualquer outro iluminado, é de extrema simplicidade e sabedoria, por isso resolvi dividi-lo publicamente. Trata-se do que chamamos do estado de alerta, meditativo. Quero dizer, enquanto não nos permitirmos ao silêncio, ao vazio, não poderemos nos “preencher” do novo, livre de conceitos e pré julgamentos.
  • ESCUTATÓRIA
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
 
Diz Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio lá dentro de nós“.
 
Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
 
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos… Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64. Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, […]. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as ideias estranhas.).
 
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais. São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
  • Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado”. 

Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou”. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
 
O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou”. E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.
 
Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.
  • Rubem  Alves