- Nos anos 90, enquanto eu estudava no Center for Creative Leadership, tive a surpresa de encontrar um estudo sobre o Jeitinho Brasileiro.
A definição de Jeitinho Brasileiro me pareceu bastante interessante: "Criatividade Adaptadora voltada para um Benefício Pessoal e de Curto Prazo, ou seja, um enorme potencial... mal direcionado.
De lá para cá, o que houve com o nosso potencial? Quando bem direcionados, arrasamos: em alta tecnologia, criamos sistemas de integração bancária e de votação eletrônica de deixar pessoas de outros países de queixo caído. Estamos nos projetando cada vez mais na moda, publicidade e design. A maior parte de nossas indústrias tem muito do que se orgulhar.
Por outro lado...
É verdade que o mau direcionamento do nosso potencial deixa a maioria dos brasileiros chocados e desanimados: o jeitinho brasileiro no seu pior sentido se expõe desavergonhadamente nas CPIs e outras denúncias de corrupção que chegam até nós.
Será que mais uma vez vamos nos deixar vencer pelo desânimo e permitir que a crise desencadeada pelas denúncias de corrupção sirva apenas para atrasar a nossa evolução? Será que todas as nossas conquistas serão mais uma vez ofuscadas pelo desfile de aberrações ideológicas que assistimos na TV?
E se analisarmos um pouco mais o nosso potencial, será que daria para virar a mesa?
Abaixo vai uma reflexão minha sobre aspectos da criatividade brasileira que nos influenciam. Vejamos:
JOGO DE CINTURA - Qualquer executivo brasileiro pode se considerar PhD em administração de surpresas. Essa nossa flexibilidade - em termos macro e micro - já é tão reconhecida que alguns americanos andam dizendo que Brazilian rima com resilient, que significa flexível, maleável. Nem por isso deixamos de planejar. A segurança de saber improvisar não faz de nós pessoas irresponsáveis.
PREOCUPAÇÃO COM OS OUTROS - Gostamos de agradar, de estar bem com todos. Às vezes exageramos, deixando de expor nossos pontos de vista ou de lutar por uma causa com medo de desagradar. É o famoso deixa quieto. Por outro lado, desenvolvemos uma sensibilidade específica, que nos ajuda a perceber o outro.
CONVIVÊNCIA COM A MAGIA - Não somos uma cultura cartesiana. Aceitamos as religiões afro-brasileiras e respeitamos nossa intuição. A criatividade precisa desse componente: por definição, quando somos criativos, nunca sabemos aonde vamos chegar. E só criamos quando acreditamos que chegaremos a um bom resultado.
SINCRETISMO - Não somos uma cultura que divide, compartimentaliza ou rotula. Religiões, pratos de comida, raças, tudo se mistura em nossa cultura. Não é assim que a Criatividade funciona? Sei bem que nem só de criatividade vive o homem, ou seja, a criatividade não é a única competência necessária para mudar um país.
Sei também que uma cultura não muda fácil nem rapidamente; Mas acredito na velha história de que toda crise é também uma oportunidade. Não poderíamos dar uma virada agora, recriar um Brasil que canaliza seu potencial a favor do seu crescimento? Já vi empresas que, ao darem foco aos seus colaboradores fizeram com que eles aliassem jogo de cintura à visão de longo prazo, já vi nossas habilidades interpessoais serem decisivas em concorrências internacionais, e vejo nosso sincretismo como um poderoso instrumento para a propagada administração da diversidade, fundamental num mundo globalizado.
Quem sabe agora não seja a hora de praticarmos uma Criatividade Inovadora, Voltada para um Benefício Coletivo e de Longo Prazo?
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