sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Filhos Adultos Mimados, Pais Negligenciados ...

  • Monica Iozzi mostra foto do seu filhinho de estimação

  • Leia um trecho deste livro:
"Filhos Adultos Mimados, Pais Negligenciados", escrito por Tania Zagury, reúne depoimentos de diferentes gerações sobre educação. No livro, ela analisa as consequências de uma criação sem limites e de como esses efeitos colaterais são percebidos pelos pais, que se sentem abandonados ou explorados pelos filhos.
"Escrevi para que ambas as gerações, a sua e a de seus pais, se beneficiem dos depoimentos contundentes e verídicos que permeiam o livro", conta Zagury. "Para que a leitura lhe permita saber o que os seus pais gostariam de receber de você em termos afetivos".
Professora e pesquisadora em educação, Tania Zagury é autora de "Limites sem Trauma: Construindo Cidadãos", "O Professor Refém", "Sem Padecer no Paraíso", "Filhos: Manual de Instruções" e "Educar Sem Culpa: A Gênese da Ética", entre outros títulos.
  • Abaixo, leia três relatos de "Filhos Adultos Mimados, Pais Negligenciados".
"Minha filha tem 38 anos; é inteligente, bonita, tem muito potencial... Mas não sei o que houve: não conseguiu se encontrar ainda. Vivo preocupada com ela. Tenho medo de morrer, sabe? Estamos com quase 70 anos! E ela continua sem saber o que quer da vida. O irmão já está na vida, batalhando, casado e com filhos, mas ela começa uma coisa, para; começa outra, para também... Já passou quatro anos na Suécia, juntou-se com um cara pela internet, acredita? Minha mulher e eu ficamos desesperados! E ela deixou a gente dizer alguma coisa? Nem pensar! Ele veio para cá uma vez, antes de irem morar juntos sei lá onde, e nós o conhecemos: uma pessoa muito calada, estranha; mas ela botou pé que ia com ele - e foi! Fazer o quê? Torcer, não é? Depois se separaram; acho que ele não queria nada de sério, aí ela voltou para o Brasil. Primeiro tentou morar só, mas não deu certo, não ganha bem; daí voltou para nossa casa e tá aí. Bem, ela tem um pai que trabalha, então para que vai se cansar? Agora resolveu viajar pelo mundo: primeiro passou uns meses na Suíça, agora está na Dinamarca - eu acho. Mas não temos sossego, estamos esperando um telefonema ou um e-mail para saber onde ela está... E já tem uns cinco dias sem dar notícias, então a gente não consegue ter paz... Ela trabalha, mas às vezes, sabe? Dá aulas de português para estrangeiros, porque aprendeu línguas quando morou na Europa, mas nem sempre... Ganha um dinheirinho e daí sai pelo mundo! E ai da gente se falar alguma coisa... Apesar de toda formação que tentamos dar - a gente sempre acha que nossos filhos vão ser diferentes, não é mesmo? Mas hoje eu sei que eles vão ser do mesmo jeito que todos esses que, depois que crescem, nem se lembram de que têm pai e mãe..."
(M.A., 70 anos, casado, médico, dois filhos, dois netos.)

"Eu realmente quis dar mais liberdade aos meus filhos - e dei. Quis que fossem mais livres, sem cobranças... Imaginando que eles ficariam muito grudados na gente, amigos, sabe como é? Mas não. Eles formam a família e acabou - pronto. A gente é meio que... Sei lá, a gente fica para trás, não digo esquecidos, mas em um plano muito, mas muito inferior, até em relação aos amigos... Muita coisa que eu gostaria de saber, de participar ou ao menos de ter notícia, eles não falam. Nem pensam em falar, nem se lembram de contar... A gente só sabe depois - e se perguntar! Tem vezes que só fico sabendo que meu filho viajou muito depois, ou quando ele já está de volta à cidade, por exemplo. Não se preocupam em avisar, em saber se você precisa de alguma coisa, já que vai ficar sozinha na cidade, ou que você pode se assustar, se preocupar caso telefone várias vezes e ninguém atenda..."
(S.B.N., 56 anos, comerciária, divorciada, dois filhos.)

"Quando meu primeiro neto nasceu, minha filha me comunicou, com total simplicidade, as regrinhas que estabelecera para mim... Logo ela que, quando menina e na adolescência, jamais aceitou uma sequer sem muita briga... E comunicou sem pensar um minuto em como eu me sentiria! 'Só telefone para o meu celular; o fixo pode acordar o bebê, ou o meu marido, que chega hipercansado!' Tem outras: 'E só telefone até oito da noite, porque depois queremos dormir.' Assim mesmo! Nem em sonhos eu falaria assim com ela, mesmo quando dependia de mim e morava em minha casa. Ela faria um escândalo!"
(S.T., 53 anos, secretária, separada, dois filhos e dois netos.)

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  • FILHOS ADULTOS MIMADOS, PAIS NEGLIGENCIADOS
  • AUTOR - Tania Zagury - EDITORA Record