- PAZ, Algo que nos vem como uma promessa de futuro, legível em certos traços presentes.
De fato, na Crítica da Razão, Kant chega a expor enfatizando sua função ético-histórica, que “a guerra em si mesma, se se leva a cabo de forma sacramente ordenada e respeituosa com os direitos dos cidadãos, tem algo de sublime.“a guerra não é uma empresa premeditada por parte dos homens, mas um projeto intencionado por parte de suprema sabedoria. E apesar das terríveis penalidades que a guerra impõe ao gênero humano, assim como das atribulações, acaso ainda maiores, que sua contínua preparação origina durante a paz, supõe um impulso para desenvolver até as suas mais altas cotas todos os talentos que servem à cultura”. Isto porque Kant aceita que o risco e sacrifício de uma guerra entre grupos tende a aumentar o valor da liberdade dentro de cada um, dinamizando-os (formal e estruturalmente) e acrescentando a cooperação e igualdade em suas bases. A resposta neutralizadora da conflagração, pelo contrário, “tende a produzir sociedades mais amplas e pacíficas, com estruturas de governo mais estáveis e, por isso, mais inclinadas à atuação despótica” (Villacañas, 1996:223). Concebe, assim, um processo, mais linear que cíclico, que vai “desde a liberdade comunitária dos povos em situação endêmica da guerra ao despotismo imperial dos povos pacificados”, sendo Pax “uma exigência imperial e, ao mesmo tempo, fonte de um agudo despotismo” (Id., ibid.). Por este motivo não podemos entender Pax como Friede, já que não faz referência a um fim justo em função do Direito, apenas o cesse da violência.
Talvez uma dose do inusitado sarcasmo kantiano de Zum ewigen Frieden, que determina a paz do cemitério como a única ‘paz eterna’ acessível àqueles políticos incapazes de excluir a guerra das suas andanças seja o ingrediente necessário para alcançar caminhos novos e imaginativos, como o seu que, mesmo que não solucione os problemas de hoje, sem dúvida que nos ajuda a encaminhar-nos à trajetória mais correta e apropriada.
- REFLEXÕES KANTIANAS
- http://paxprofundis.org/livros/refkant/refkant.htm